Budapeste: Posters comerciais húngaros e o mundo de Toulouse-Lautrec


Em plena azáfama relacionada com as preparações de outro evento que ameaça levar-nos à loucura, ontem decidimos fazer uma pequena pausa para visitar duas novas exposições em Budapeste que aguardávamos com enorme ansiedade.


O Museu de Artes Aplicadas, em Budapeste, é um dos edifícios mais belos e únicos da cidade. Construído em 1893 e concebido pelo arquitecto húngaro Ödön Lechner, exibe uma fachada em Arte Nova imponente, cujos pequenos pormenores são impossíveis de quantificar. Quando nos deparamos com a sua entrada ficamos hipnotizados com o tecto trabalhado, com os padrões das paredes e com as escadas amarelas que parecem saídas de um conto de fadas. E é precisamente neste local que podem encontrar a exposição 'Bolder than painting - modern commercial posters in Hungary, 1924 - 1942'.



Patente até ao dia 27 de Julho, esta mostra permite-nos observar de perto não só 102 dos melhores cartazes concebidos por artistas húngaros durante este período, como também livros, fotografias e alguns objectos relacionados com os produtos promovidos pelas obras. Tendo em conta o período criativo que actualmente atravesso nesta área, foi com naturalidade que me senti tão inspirado como esmagado com muito do que via. Forçados a emigrar por razões políticas, alguns destes artistas como Sándor Bortnyik, László Moholy-Nagy ou Farkas Molnár, acabariam por integrar a famosa escola alemã Bauhaus, um dos grandes expoentes Modernistas no que toca a design gráfico, artes plásticas e arquitectura de vanguarda.


Ao mesmo tempo, foi perturbador observar semelhanças entre alguns trabalhos da exposição e o que ando a fazer, sem nunca ter conhecido até ao momento tais cartazes. Um bom exemplo disso é o cartaz que podem ver na contra-capa do livro acima. A publicação em causa, em Espanhol, Húngaro e Inglês, constitui o catálogo desta exposição e recomenda-se vivamente. Está disponível na loja do museu a um preço acessível (cerca de 13€). Para quem adora estas coisas como nós, estão disponíveis na loja outros 3 livros deste género, mas os preços são mais elevados e o texto está apenas em Húngaro infelizmente.


Se a overdose que sentimos na exposição anterior já foi considerável, nada nos preparou para o que nos esperava em seguida, quando rumámos até ao Museu de Belas Artes para ver a exposição 'The World of Toulouse-Lautrec' (O Mundo de Toulouse-Lautrec).



Organizada para celebrar o 150.º aniversário do nascimento de Henri de Toulouse-Lautrec (1864-1901) e adiada algumas vezes, a inauguração da mostra do artista francês acabou por acontecer no dia 30 de Abril (encerra a 24 de Agosto), mas a espera valeu bem a pena. Uma das coisas que logo nos fascinou foi o facto de grande parte dos inúmeros trabalhos presentes pertencerem ao museu, à excepção de uns quatro ou cinco provenientes de Viena, na Áustria. Isto levou-nos a ponderar que tal colecção deverá ser muito lucrativa como mostra itinerante para alugar a outros museus e espaços, já que até ao momento nunca tínhamos visto ali estes trabalhos. A dimensão era de tal modo que podia funcionar perfeitamente como exposição permanente invés de temporária como é o caso, mas percebe-se perfeitamente a opção tomada e dei por mim a pensar na polémica portuguesa recente em relação a certos quadros do Joan Miró. Falta de visão ou falta de grande tradição cultural? Ambas talvez.


Outra característica que nos fez ficar com um enorme sorriso foi o facto de esta ser a primeira vez que pudemos ver ao vivo muitas destas obras, já que nem em França elas estavam presentes. Fascinante. A organização cuidada da exposição, como já é apanágio, também nos impressionou da melhor maneira. A cor das paredes, a luz a incidir nas obras, os objectos relacionados onde até se incluía um ecrã táctil que nos permitia aprender de forma básica como criar uma litografia para percebermos o funcionamento de parte do processo usado nas obras de Lautrec, os livros, as informações sobre o artista, fotografias e vídeos relacionados com as pessoas retratadas nos desenhos. Enfim. Por vezes os desmaios ameaçavam surgir com tanto estímulo sensorial positivo. E um outro pormenor curioso acerca desta exposição é o de uma grande parte (cerca de 170 trabalhos) da colecção Toulouse-Lautrec do Museu de Belas Artes de Budapeste só ter sido exibida, nos últimos cinquenta anos, uma única vez neste museu - em 1964.


A envergadura e qualidade da exposição obrigou a que adquirir o catálogo respectivo fosse imperativo. Disponível em duas versões (com o texto em Húngaro ou Inglês), o livro contém 219 páginas e uma quantidade de informação impressionante. Além do texto principal a não perder, que percorre muitas das páginas, vai ao ponto de mencionar quando é que as obras foram adquiridas, a quem, onde está situada a assinatura do artista, se a edição é limitada e por conseguinte o número de exemplares, etc. E o preço? Bastante acessível, cerca de 15€.

Um 1.º de Maio preenchido com trabalho, mas também com uma pausa retemperadora. Para quem tiver a oportunidade, a visita a estas duas novas exposições aconselha-se sem rodeios. São oportunidades raras que nos demonstram uma vez mais a importância que a Cultura desempenha nesta cidade.