"Do cimo desta janela inclino-me para a frente, de modo a tentar sentir da melhor maneira esta brisa quente que me inebria os sentidos. Quanto maior é o risco de me desequilibrar e dizer um olá de frente ao chão lá em baixo tão longínquo, maior é a febre que me percorre o corpo, onde cada momento em que me puxo para trás repentinamente e deito a cabeça para cima, enquanto solto um suspiro de prazer, é êxtase em estado puro. Estou bêbada, e gosto disso.
O meu desejo neste momento é que te levantasses da cama e te encostasses a mim por detrás, para eu sentir o quanto gostas de mim, por muito fútil que isso possa parecer. Não há nada como aproveitarmos as erecções matinais de um homem, de pegarmos nele e dizer suavemente e com cara de falso espanto: “tão rijo, parece uma pedra”. Ficam sempre tão envergonhados e convencidos coitados.
Infelizmente, continuas deitado e a dormir profundamente, grunhindo palavras imperceptíveis e ressonando ocasionalmente. Até gosto que estejas assim, tão em paz, é sinal que te sentes bem ao pé de mim.
Saio um pouco da janela e vou até à cozinha, percorrendo a casa com esta camisa de dormir leve e curta, que deixa antever algo mais, mas sem nunca o revelar totalmente, o que é algo que adoro e me excita só de pensar nisso. Não devia ter bebido tanto ontem à noite, nem acordar ao sabor de mais umas cervejas ao amanhecer, se bem que observar o nascer do sol enquanto dou uns golos numa garrafa também é algo que me agrada profundamente.
Estou indecisa se preparo o nosso pequeno-almoço ou não. Por um lado gosto de o fazer, de te levar de surpresa a comida à cama e acordar-te aos poucos com o gosto adocicado dos meus lábios debaixo da roupa, por outro sinto que posso estar a deixar-te mal habituado ou a dar um ar de demasiado apaixonada ou submissa deste nosso sentimento. Esta vida é cheia de indecisões e dúvidas.
Envolta nesta paixão, impossível de esconder perante o brilho intenso dos meus olhos sempre que olho para ti ou menciono o teu nome a alguém, decido arranjar-me para ir ter contigo na hora de almoço ao trabalho, tão só porque simplesmente me apetece e porque acho que estou a ficar viciada em ti e neste sentimento.
Horas mais tarde, diante do prédio que já me é familiar, sorrio e subo as escadas como já o tinha feito algumas vezes, dirigindo-me ao teu gabinete. Tento não fazer barulho com os saltos altos, escondendo a minha presença, enquanto percorro aqueles corredores estreitos repletos de portas, não demorando muito a chegar à tua, com uns fantasmas brilhantes que brilham no escuro e que lhe dão um ar tão personalizado. Quando a abro, só tenho tempo de ver a figura de joelhos à tua frente, com os cabelos morenos a desaparecerem no meio das tuas calças puxadas para baixo. Entre o estado de choque e apatia, um dos pensamentos que me ocorre é que já há muito que não te via essa cara de prazer que fazias e que se calhar a culpa era minha, não por não te dar algo que supostamente precisavas, mas sim por ser tão burra.
“Querida, não é o que pensas” dizes, e não sei se hei-de ficar mais ofendida com o discurso e desculpa cliché se com o resto já, com os olhos fervilhantes de raiva, a processar diversos pormenores que já tinha notado mas que só nestas alturas é que percebemos o verdadeiro sentido dos mesmos.
Viro costas, pegando no telemóvel, que hoje aparenta estar mais pesado que o normal, e mando uma mensagem a um amigo, daqueles que sempre estiveram aqui para mim. Hoje não irei beber sozinha, e não gosto disso."
Nuno Almeida, Lugares Comuns, 2008
Boomp3.com
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O meu desejo neste momento é que te levantasses da cama e te encostasses a mim por detrás, para eu sentir o quanto gostas de mim, por muito fútil que isso possa parecer. Não há nada como aproveitarmos as erecções matinais de um homem, de pegarmos nele e dizer suavemente e com cara de falso espanto: “tão rijo, parece uma pedra”. Ficam sempre tão envergonhados e convencidos coitados.
Infelizmente, continuas deitado e a dormir profundamente, grunhindo palavras imperceptíveis e ressonando ocasionalmente. Até gosto que estejas assim, tão em paz, é sinal que te sentes bem ao pé de mim.
Saio um pouco da janela e vou até à cozinha, percorrendo a casa com esta camisa de dormir leve e curta, que deixa antever algo mais, mas sem nunca o revelar totalmente, o que é algo que adoro e me excita só de pensar nisso. Não devia ter bebido tanto ontem à noite, nem acordar ao sabor de mais umas cervejas ao amanhecer, se bem que observar o nascer do sol enquanto dou uns golos numa garrafa também é algo que me agrada profundamente.
Estou indecisa se preparo o nosso pequeno-almoço ou não. Por um lado gosto de o fazer, de te levar de surpresa a comida à cama e acordar-te aos poucos com o gosto adocicado dos meus lábios debaixo da roupa, por outro sinto que posso estar a deixar-te mal habituado ou a dar um ar de demasiado apaixonada ou submissa deste nosso sentimento. Esta vida é cheia de indecisões e dúvidas.
Envolta nesta paixão, impossível de esconder perante o brilho intenso dos meus olhos sempre que olho para ti ou menciono o teu nome a alguém, decido arranjar-me para ir ter contigo na hora de almoço ao trabalho, tão só porque simplesmente me apetece e porque acho que estou a ficar viciada em ti e neste sentimento.
Horas mais tarde, diante do prédio que já me é familiar, sorrio e subo as escadas como já o tinha feito algumas vezes, dirigindo-me ao teu gabinete. Tento não fazer barulho com os saltos altos, escondendo a minha presença, enquanto percorro aqueles corredores estreitos repletos de portas, não demorando muito a chegar à tua, com uns fantasmas brilhantes que brilham no escuro e que lhe dão um ar tão personalizado. Quando a abro, só tenho tempo de ver a figura de joelhos à tua frente, com os cabelos morenos a desaparecerem no meio das tuas calças puxadas para baixo. Entre o estado de choque e apatia, um dos pensamentos que me ocorre é que já há muito que não te via essa cara de prazer que fazias e que se calhar a culpa era minha, não por não te dar algo que supostamente precisavas, mas sim por ser tão burra.
“Querida, não é o que pensas” dizes, e não sei se hei-de ficar mais ofendida com o discurso e desculpa cliché se com o resto já, com os olhos fervilhantes de raiva, a processar diversos pormenores que já tinha notado mas que só nestas alturas é que percebemos o verdadeiro sentido dos mesmos.
Viro costas, pegando no telemóvel, que hoje aparenta estar mais pesado que o normal, e mando uma mensagem a um amigo, daqueles que sempre estiveram aqui para mim. Hoje não irei beber sozinha, e não gosto disso."
Nuno Almeida, Lugares Comuns, 2008
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8 comentar
Click here for comentarGostei muito! :)
ReplyAinda bem que ela tem amigos!
Homens... tss... TUDO FARINHA DO MESMO SACO!!!! :D
Esperemos agora que o amigo não se tente aproveitar dela e da sua embriaguez para lhe saltar para a espinha! (não seria nada de outro mundo..)
**
Se fossem só os homens... :D
ReplyPois, ou vice-versa, que nestas horas isto tudo tem muito que se lhe diga de quem é que se aproveita de quem. :p
Amei este texto e as músicas que escolheste. Muito bom :)
ReplyObrigado mais uma vez. :)
ReplyEste foi mais um daqueles que fiquei um pouco perturbado depois de o escrever, em que entras mesmo na personagem e percorres tudo o que o texto vai descrevendo e no final ficas mesmo... *preciso de um copo...*
Acho que tenho mesmo um dia de tentar fazer um CD ou 2 baseados nestes textos, se bem que se não forem acompanhados pelos mesmos as músicas podem perder o contexto em que foram usados. Oh well, algo a pensar com mais calma para outra altura.
Thx. :)
Mas isso é uma ideia muito interessante. Tenho pensado no mesmo mas neste caso em vez de músicas era mais imagens. :)
ReplySim, imagina fazeres/organizares textos teus em forma de livro, com as imagens e fotos que costumas escolher para eles a acompanhar e ilustrar os mesmos. Acho que ficaria muito interessante, assim numa onda para oferecer a amigos e algumas pessoas. :)
ReplyCheguei a fazer há umas semanas uma recolha das músicas que andei a colocar aqui e meti numa pasta a ver quantas eram, o tempo que dava, etc, e na altura já passavam os 3 CDs 0_0
Por agora penso que ok, tento fazer uma selecção e organizo no máximo 2CDs (mais parece-me excessivo) de tudo o que se foi metendo aqui, ou então faço simplesmente um focado na criação de um ambiente que tenha a ver com os textos, usando na mesma só faixas das que estão aqui. Todas estas escolhas prometem ser uma dor de cabeça dos diabos. :p
Sim, eu costumava fazer isso, mas textos com desenhos meus. Mas desta vez se o fizer será mesmo um livro. Já me ando a informar sobre direitos de autos e essas coisas. É um projecto para fazer com calma, não quero apressar nada.
ReplyHaha 3 cds!! :)
Pois, também se anda por aqui com calma a ver de coisas semelhantes, e que preços só por curiosidade levam para publicar algo. Com este andar mais vale fazermos via casa de fotocópias um livro sinceramente, tendo em conta o que cobram em editoras. :p
ReplyA versão com música seria só para os 'amigos' por razões óbvias, e uma versão com imagens e ilustrações já poderia ser para quem quisesse caso houvesse algum tipo de publicação do mesmo
Mas ya, isto são coisas para irmos com muita calma. :)
E acho que em termos de cds já deve dar uns 4 ou 5, tendo em conta o tempo desde que recolhi as últimas faixas até agora. *blushes*
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