Colapso

"Conduzo um carro que não é meu, à procura não de uma auto-estrada ou do caminho correcto, mas sim de vertigem.

Quero cair, chegar ao fundo e que deixe de haver luz nesta farsa, porque já estou farto, porque não sei se vale a pena levantar-me todos os dias, ou noites, sem ter um espelho onde me possa ver.

E já paravam com este barulho infernal sinceramente, que não me larga e ecoa nos ouvidos como um enxame de abelhas em fúria por lhes roubarmos os favos de mel.

Mas adiante que se faz tarde para mais estas confissões de desgraças e falta de amor-próprio, para mais lamúrias e desculpas para não se viver a vida em pleno, para estes escapes, fugas e libertações que me permitem sobreviver à corrosão do dia a dia.

Descanso é palavra de ordem, que explode cá dentro a cada minuto, hora e momento em que vou mantendo os sentidos despertos.

Talvez precise de dormir quem sabe, de abraçar as nuvens e as estrelas, de me deixar ir para fora daqui. Talvez precise de ser desligado, assim, como se tudo fosse um simples interruptor em que não existe perigo de choques ou complicações. Ou talvez, precise de levar com um martelo na cabeça e de ser silenciado de vez, porque já chateia realmente, esta voz na minha cabeça com os seus bla bla blas incessantes.

Ou talvez precise de ficar apenas assim, muito paradinho, a observar tudo o que me rodeia e a aprender a olhar sem tirar ilações ou ideias, a ver por ver, bebendo desta fonte de nulidade, deste bálsamo para os sentidos.

Ou talvez precise apenas de férias?"

Nuno Almeida, Lugares Comuns, 2008

boomp3.com

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Sofia
admin
13 junho, 2008 01:21 ×

Peut-être t'auras seulement besoin de sourire plus?

§

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