"Por todos os lados, em cada caminho, recanto e esquina, nunca me encontro. Mas de qualquer maneira, acho que nunca me dei realmente ao trabalho de me procurar.
As veias sobressaem ao mínimo esforço, rugas surgem à mínima preocupação e padrões de comportamentos são deitados fora ao acaso, numa espiral sem fim, onde ninguém desce nem sobe, ficando-se sempre pela indecisão.
A cada ardor da agulha, a cada inalar, a cada respirar do aroma a limão, perco-me cada vez mais do meu ponto de origem, pensando sempre que sou mais que as outras pessoas todas, que elas é que estão aqui por andar e não eu. É uma armadilha que acabei por criar para mim próprio para tentar justificar a minha existência.
Em cada canto o cheiro a urina seria capaz de fazer um pessoa normal ter cólicas e vómitos, mas isso já não me afecta há muito, tal como tudo o resto, à excepção dos bolsos vazios, pois há necessidades a manter, mesmo que as sensações a descobrir sejam cada vez mais inexistentes.
Tudo pauta pela ausência, nadas constroem-se, e crianças perdem-se e deixam de o ser num abrir e fechar de olhos, numa troca repentina de ocasiões, de decisões que nunca se lamentam na hora.
Após pouco tempo, da falsa felicidade passo para a resignação, para um estado robótico em que já não quero saber se isto faz algum sentido sequer, com a vontade anulada, em que destruo a minha vida e a dos outros que calhem cruzar-se comigo.
Sou um poço negro, um vácuo que engole e expulsa toda a matéria que consegue alcançar, mais um que anda por aqui… até que um dia a morte me separe."
Nuno Almeida, Lugares Comuns
2008, Textos Soltos
boomp3.com
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As veias sobressaem ao mínimo esforço, rugas surgem à mínima preocupação e padrões de comportamentos são deitados fora ao acaso, numa espiral sem fim, onde ninguém desce nem sobe, ficando-se sempre pela indecisão.
A cada ardor da agulha, a cada inalar, a cada respirar do aroma a limão, perco-me cada vez mais do meu ponto de origem, pensando sempre que sou mais que as outras pessoas todas, que elas é que estão aqui por andar e não eu. É uma armadilha que acabei por criar para mim próprio para tentar justificar a minha existência.
Em cada canto o cheiro a urina seria capaz de fazer um pessoa normal ter cólicas e vómitos, mas isso já não me afecta há muito, tal como tudo o resto, à excepção dos bolsos vazios, pois há necessidades a manter, mesmo que as sensações a descobrir sejam cada vez mais inexistentes.
Tudo pauta pela ausência, nadas constroem-se, e crianças perdem-se e deixam de o ser num abrir e fechar de olhos, numa troca repentina de ocasiões, de decisões que nunca se lamentam na hora.
Após pouco tempo, da falsa felicidade passo para a resignação, para um estado robótico em que já não quero saber se isto faz algum sentido sequer, com a vontade anulada, em que destruo a minha vida e a dos outros que calhem cruzar-se comigo.
Sou um poço negro, um vácuo que engole e expulsa toda a matéria que consegue alcançar, mais um que anda por aqui… até que um dia a morte me separe."
Nuno Almeida, Lugares Comuns
2008, Textos Soltos
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10 comentar
Click here for comentaradoro Death in Vegas!
Replyhmm, quando fizeres as pazes com os livros recomendaria Irvine Welsh e William Burroughs. :)
Tenho uma pequena obsessão por esta faixa deles. ;)
ReplyHmm, William Burroughs eu cheguei a ler umas cenas dele salvo erro (há largos anos) e o Irvine Welsh não me é estranho o nome hmm. Isto quase que parece que estou a reaprender certas coisas no que toca à leitura. :p
Thx pelas palavras e sugestões. :)
... ou que se ganhe a coragem de reaprender a viver de outro modo.
ReplyAlô Azel!
O Irvine Welsh é o homem do "Trainspotting", "Lixo", "Ecstasy", entre outros. Senhor muito realista, independentemente da temática que aborde.
O que me leva a dizer que, longe do grande boom e exagero da altura, tenho saudades de ouvir o "Born Sleeppy"!
Até à próxima §
hehe
ReplyWilliam Burroughs conheço o 'Junky' e o Irvine Welsh é o autor de 'Transpotting' :)
Alo Sofia. :)
ReplyE ya, ou te deixas ir pro vazio, ou ganhas forças e decides erguer-te. :)
Bem me parecia que o nome era familiar em relação ao Irvine Welsh, e do pouco que conheço algo me diz que vou gostar, não só pelas temáticas como pelo tal "realismo".
Fica registado o "pedido" da Born Sleepy. :p
Lucia thx, vocês vão-me levar à ruina. ;)
Hi!
ReplyAbout the request it's as you say, DJ. ;)
§
;)
Reply"E ya, ou te deixas ir pro vazio, ou ganhas forças e decides erguer-te. :)"..
ReplyQue bonita frase.
E que texto tão cheio de cheiros e sons.. percebeste? Acho que sim. :)
[ Death in Vegas também gosto.
Carnes não conhecia mas gostei da faixa que escolheste. ]
**
Ahahahah! Queria dizer Cranes!!!!
ReplyCarnes claro que conheço e gosto!
Sim eu sou canibal e adoro comer carne! :D
**
lol carnes. :p
ReplyHmm em relação aos cheiros e sons, não sei bem se percebi. ;)
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