"Existem momentos em que gostava de me saber exprimir por palavras, mas quando estou perto de ti, elas faltam-me, então deixo-me ficar pelos gestos e acções, como quando te abraço e sinto os meus sentimentos a encostarem-se ao teu corpo e dizerem-te o quanto gosto de ti, mesmo que nem sempre o percebas.
Por vezes queixas-te dessa falta de expressão e nem sentes como as minhas mãos se soltam quando percorrem o teu corpo, como tudo fica suave e claro.
“Diz-me que me amas”
Olho para ti e nada sai mais uma vez da minha boca, enquanto trinco com calma a tua orelha direita. Nem sequer um sussurrar sai deste ser, e não é por aí que irás perceber alguma vez se te amo ou não, e o mais certo é que nunca o irás perceber, para nossa infelicidade.
Estamos a tomar banho, como tantas vezes o fazemos, molho-te o corpo e vou esticando e penteando o teu cabelo de maneira carinhosa. É comprido, escuro e desliza pelos meus dedos como se fosse cetim. Adoro a sensação, e adoro faze-lo, porque gosto mesmo de ti.
“Diz-me que me amas”
Mais uma vez o pedido causa-me desconforto e saio da banheira, sem olhar para trás, tal a frustração da situação. Bem que podia estar erecto enquanto te acariciava e sentia todos os poros da tua pele diante do meu nariz, mas esta insistência nas palavras está a deixar-nos perdidos e longe um do outro.
Acho que temos um problema de comunicação, penso cá para mim. Sim, ainda estava na fase do acho.
Era capaz de mover rios e montanhas por ti, mas não de soltar umas simples palavras, seja diante de ti, ou por mensagem, por muito banais que elas se tornassem com o tempo. Talvez por defesa, por trauma e receio de um dia isto tudo terminar e olhar para essas palavras de maneira amarga, como símbolo de eventuais hipocrisias.
Estamos deitados, e os momentos juntos começam a ser sinónimo do medo de tudo ser interrompido, de tudo se desvanecer ao som das palavras proferidas pela tua boca dócil, algo carnuda e fonte de desejos que não ouso descrever. E ali, bem no meio de carícias mútuas, soltas novamente a bomba.
“Diz-me que me amas”
*fdx*
Olho para a televisão, apagada há muito, frustrado, e temos mais uma discussão, conflitos cada vez mais centrais a esta nossa relação, que a pouco e pouco devoram tudo o resto, sendo complicado discernir onde perdemos a capacidade de ter momentos agradáveis e bonitos.
Paira no ar uma raiva, faíscas que nos queimam mutuamente, estamos a arder nesta nossa fogueira de pequenos nadas que destroem sempre o todo. Com o olhar inflamado, e perante a paixão que não se esconde, soltamos finalmente umas palavras.
*fdx*
“odeio-te”
“amo-te”
*merda pra isto*
*também te odeio*
*amo-te*
*odeio isto*
“relações são uma merda”
*pois são*
“amo-te”
*……*
*som de um beijo*
“foi assim tão complicado?”
Nuno Almeida, Lugares Comuns
2008, Textos Soltos
boomp3.com
Por vezes queixas-te dessa falta de expressão e nem sentes como as minhas mãos se soltam quando percorrem o teu corpo, como tudo fica suave e claro.
“Diz-me que me amas”
Olho para ti e nada sai mais uma vez da minha boca, enquanto trinco com calma a tua orelha direita. Nem sequer um sussurrar sai deste ser, e não é por aí que irás perceber alguma vez se te amo ou não, e o mais certo é que nunca o irás perceber, para nossa infelicidade.
Estamos a tomar banho, como tantas vezes o fazemos, molho-te o corpo e vou esticando e penteando o teu cabelo de maneira carinhosa. É comprido, escuro e desliza pelos meus dedos como se fosse cetim. Adoro a sensação, e adoro faze-lo, porque gosto mesmo de ti.
“Diz-me que me amas”
Mais uma vez o pedido causa-me desconforto e saio da banheira, sem olhar para trás, tal a frustração da situação. Bem que podia estar erecto enquanto te acariciava e sentia todos os poros da tua pele diante do meu nariz, mas esta insistência nas palavras está a deixar-nos perdidos e longe um do outro.
Acho que temos um problema de comunicação, penso cá para mim. Sim, ainda estava na fase do acho.
Era capaz de mover rios e montanhas por ti, mas não de soltar umas simples palavras, seja diante de ti, ou por mensagem, por muito banais que elas se tornassem com o tempo. Talvez por defesa, por trauma e receio de um dia isto tudo terminar e olhar para essas palavras de maneira amarga, como símbolo de eventuais hipocrisias.
Estamos deitados, e os momentos juntos começam a ser sinónimo do medo de tudo ser interrompido, de tudo se desvanecer ao som das palavras proferidas pela tua boca dócil, algo carnuda e fonte de desejos que não ouso descrever. E ali, bem no meio de carícias mútuas, soltas novamente a bomba.
“Diz-me que me amas”
*fdx*
Olho para a televisão, apagada há muito, frustrado, e temos mais uma discussão, conflitos cada vez mais centrais a esta nossa relação, que a pouco e pouco devoram tudo o resto, sendo complicado discernir onde perdemos a capacidade de ter momentos agradáveis e bonitos.
Paira no ar uma raiva, faíscas que nos queimam mutuamente, estamos a arder nesta nossa fogueira de pequenos nadas que destroem sempre o todo. Com o olhar inflamado, e perante a paixão que não se esconde, soltamos finalmente umas palavras.
*fdx*
“odeio-te”
“amo-te”
*merda pra isto*
*também te odeio*
*amo-te*
*odeio isto*
“relações são uma merda”
*pois são*
“amo-te”
*……*
*som de um beijo*
“foi assim tão complicado?”
Nuno Almeida, Lugares Comuns
2008, Textos Soltos
boomp3.com
13 comentar
Click here for comentar"quando te abraço e sinto os meus sentimentos a encostarem-se ao teu corpo e dizerem-te o quanto gosto de ti"
ReplyWindooooooooooo!
Por isso é que gosto muito mais de acções do que de palavras!
:)
:)
ReplyNa maior parte dos casos valem mais que mil palavras, por muito cliché que isso possa soar. ;)
Para mim, no meu ponto de vista não é cliché nenhum.
ReplyNão há coisa que mais deteste do que dizerem que vão fazer algo e não fazem, ou verbalizarem sentimentos sem os expressarem (não verbalmente)... Por isso, já nem ligo quando me dizem determinadas coisas...como se costuma dizer: ver para crer! :)
(mas o teu texto demonstra na perfeição a diferença entre meninas e meninos...nós precisamos muito de ouvir essa palavrinha mágica, vezes sem conta para nos sentirmos seguras, I Guess...isto pelo k vou vendo!)
É capaz heheh, o que pode levar à tal banalização de certas palavras e expressões, e não se reconhecer as outras formas de demonstrar que se gosta de uma pessoa. ;)
Replycostumo dizer 'Há coisas que se fazem e não se pensam' :P
Replymas, agora a sério, o amor é muito bonito, mas viver a dois é um desafio constante.
Ya, se bem que essa "luta" entre as duas pessoas até acaba sempre por hmm, apimentar as coisas digamos assim.
ReplyÉ quase paradoxal, por vezes desejamos paz e harmonia numa relação, por outro parece que também gostamos daqueles choques típicos entre as pessoas, do puxarmos uma pela outra, dar luta à outra. ;)
bem, estagnar é morrer como se costuma dizer. :p
Que saudades que tinha de vir aqui ao teu espaço e de me surpreender..
ReplyÉ mais difícil realmente expressarmo-nos por palavras, o medo de dizer isto ou aquilo e depois do outro lado ninguém conseguir ouvir..
Por outro lado há muitas formas de se mostrar o que se sente e como se sente e se ambos aprenderem a descodificar essa mesma linguagem a coisa vai fluindo e em vez de perdidos e longe um do outro fica-se mais perto e as pessoas vão-se encontrando aqui e ali..
Gostei muito deste texto.
[ Também gostei da música. :) ]
**
Seja bem aparecida. :p
ReplyA parte do descodificar é sempre o mais dificil, mas é tão peculiar e hmm, bonito até, quando acontece, em que ambas as pessoas como que emanam pra fora que estão juntas, mesmo que não o demonstrem abertamente e de certas maneiras.
Familiar, muito familiar. ;)
Obrigado. :)
Azelpds,
Replyo segredo, se assim se pode chamar, é não dar importância ao que é trivial.
Yep, pode ser, mas podemos ter problemas quando achamos que algo é trivial para nós e para outra pessoa isso não é. ;)
Replypois! eu estava mais a falar de mim, eu era a que dava inmportância ao que era trivial e tive de deixar de dar. :P
ReplyEu também já tive uns choques derivados a isso já. :p
ReplyCom o tempo as pessoas acabam sempre por fazer algumas consessões para bem de uma relação, e desde que não percam a sua identidade no processo, ainda bem. :)
lol pois é. bem verdade. eu já vou em 8 anos e acho que continuo a ser eu :P
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