Casshern Sins: O significado da vida



Série de TV (Anime)
(2008-2009)

24 episódios

Obras semelhantes, ou para os apreciadores de:
Kino's Journey, Ergo Proxy, Metropolis, Kaiba, Haibane Renmei, Mushishi, Pale Cocoon, Ghost Hound, Dennou Coil









O que significa viver e a própria vida? E a morte, qual o papel dela? Será apenas uma mera fatalidade do que é existir? Ou servirá para conseguirmos apreciar a vida e, consequentemente, darmos o devido valor a ela? E se pudéssemos viver para sempre, até que ponto é que isso nos faria estagnar e perder o desejo de seguirmos em frente, de deixarmos a nossa marca no mundo? Esta série, com uma forte carga filosófica, faz-nos ponderar em algumas questões e na capacidade que temos em lidar com as mais diferentes circunstâncias, de aprendermos com os nossos erros e com os dos outros, com as nossas virtudes e com as de outras pessoas.


Casshern Sins funciona como uma visão alternativa de Shinzou Ningen Casshern, série transmitida originalmente nos anos 70. A acção decorre num ambiente devastado, povoado por humanos e robôs que se envolveram em conflitos ao longo do tempo. A humanidade procurava a vida eterna e, em contraste, os robôs eram eternos mas procuravam sentir-se mais humanos, aprendendo a sentir emoções e almejando a utopia de tentarem conceber filhos.

No meio disto temos o protagonista que dá nome à série, Casshern. Imortal, amnésico e responsável pelo estado terminal do mundo após matar uma outra personagem conhecida apenas como Luna, ele embarca numa jornada em busca das suas memórias e de si mesmo.


Uma das consequências das acções realizadas por Casshern no passado, é a existência de uma doença que afecta agora os robôs, de nome Ruína, que faz com que os mesmos ganhem ferrugem, deteriorando-se com o tempo. Este pormenor é central à narrativa e a toda a série, que nos mostra como as personagens vão tentando sobreviver numa situação de aparente desespero. Há quem se sinta vivo a cantar, outros a lutar, outros a construir algo, a pintar, ou até quem se sinta resignado e espere apenas que a sua hora chegue de uma vez.

Não, isto não é uma série muito leve, nem muito movimentada também diga-se, apesar das sequências de acção existentes serem excelentes a todos os níveis. O que merece mesmo a pena é observar o dia-a-dia das personagens, os seus dilemas, fragilidades, qualidades, os pequenos pormenores, as expressões que exibem, tão mais eficazes do que qualquer palavra em diversos momentos.

Casshern Sins tem tanto de surreal como de poética e filosófica. É inspiradora. As ideias e pensamentos correram-me pela mente enquanto ia assistindo aos episódios.

Contribuindo para todo o cariz particular da série, temos a animação a cargo da Madhouse e a direcção de arte soberba. O resultado final assemelha-se a bocados de telas animadas em várias ocasiões, com os cenários a equilibrarem entre os que contrastam cores vivas e os que exibem o referido mundo negro, deprimente e devastado. Determinadas ocasiões lembram até aguarelas a ganharem vida e a tomarem forma. Fabuloso. As sequências de acção não ficam atrás, exibindo traços semelhantes a rascunhos a lápis, por vezes, com a coreografia dos movimentos e de certos combates a remeterem para uma espécie de bailado entre os intervenientes. Chega a ser poético.

Inicialmente, o design de certas personagens, em jeito de homenagem à fonte original, pode assustar um pouco, mas depressa nos habituamos a todas as particularidades desta visão moderna. A narrativa procura fazer-nos pensar, reflectir sobre o nosso papel no mundo, não estando interessada em oferecer uma conclusão que possa ser feliz, aparentemente. Afinal de contas, o mundo está a morrer e, como tal, o que fazemos nesse tempo é o que mais importa. Saliento, novamente, que tudo isto não seria possível sem a excelência da componente visual, sentindo-se um claro amor e paixão por esta visão por parte dos criadores da série.


A lentidão com que tudo se desenrola poderá ser o maior problema para os menos pacientes, com alturas em que pouco acontece durante os episódios. Nesses momentos, o foco passa para o desenvolvimento da relação entre algumas personagens, assim como para a jornada de auto-descoberta de Casshern. O que recompensa o espectador é sentir no final que grande parte das personagens mudaram e evoluíram, que tudo valeu a pena nesta busca por resolução.

A progressão episódica inicial também não ajuda, assim como os diálogos dos robôs que teimam em atacar Casshern com os seus instintos mais primários e básicos. Mesmo assim a persistência compensa, seja devido à descoberta de todo o quebra-cabeças em torno da narrativa, como pela criatividade da vertente visual, que teima em surpreender-nos quando menos esperamos.


Sabermos que vamos morrer um dia não é nenhuma surpresa, mas lidar com isso e com a desolação de um mundo onde a morte espreita a cada momento não é fácil de digerir, com Casshern Sins a funcionar melhor se for saboreada em doses pequenas de cada vez. De qualquer modo, as dissertações em redor do que fazemos com a vida, a esperança que daí advém e outras características são dignas de se ver e sentir. A música, eficaz, também ajuda a elevar o drama da história em diversas ocasiões.

Casshern Sins tem tanto de surreal como de poética e filosófica. É inspiradora. As ideias e pensamentos correram-me pela mente enquanto ia assistindo aos episódios. Houve alturas em que só apetecia mesmo era ir até uma janela e ficar a olhar para a rua, para o sol, o céu, as pessoas a passarem, a confusão do trânsito, ao mesmo tempo que me abstraia totalmente de mim próprio e ia recordando as imagens e frases do que tinha acabado de assistir momentos antes. Acabei de ser brindado com algo deveras especial, que me estimulou os sentidos e tocou nos pontos certos, é essa a sensação que fiquei no final.

Todo este potencial para as nossas sinapses é uma das razões porque considero este meio da animação japonesa tão apelativo, ou porque é bom tentar investigar o que existe fora dos circuitos mais comerciais, seja em que área for e sem a necessidade de se apostar em extremos opostos que só conduzem ao vazio ou a elitismos ocos.

4 comentar

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23 março, 2009 17:47 ×

Ena... mesmo que não apeteça ver a série, depois de ler a tua descrição apetece ver. :)

Parece ser uma série interessante, apesar de que, cada pessoa irá depois interpreta-la de forma diferente, mas a tua interpretação está muito curiosa. ;)

**

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23 março, 2009 18:01 ×

Thx. :)

Se fizer alguém querer ver a série com a minha descrição é missão cumprida. :p

Adorei mesmo, apesar de não ser uma série fácil.

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Anónimo
admin
07 maio, 2009 03:55 ×

Assisti somente até agora 4 episódios e, com vc disse, é bom experimentá-lo em pequenas doses.Os discursos entre as personagens foi o q me chamou mais atenção, estou um pouco acostumado a história da maioria dos animes q fazem sucesso por aquí, os traços me lembraram um pouco cavaleiros do zodiaco e os discursos me lembraram evangelion. spero q o restante dos episódios também valham a pena.

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07 maio, 2009 10:25 ×

Hi. :)

Parte de quem faz as vozes e o design das personagens também fizeram os dos Cavaleiros. O Casshern então lembra mesmo o Seiya.

Eu gostei da série, apesar dela não ser perfeita e desenrolar-se de maneira lenta, o que se nota quanto mais avançamos nela. Mas realmente os diálogos e locais que as personagens visitam valem a pena. :)

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