Texhnolyze: Distopia visual

Série de TV (Anime)
(2003)

22 episódios

Obras semelhantes, ou para os apreciadores de:
Serial Experiments Lain, Monster, Haibane Renmei, Ergo Proxy, Boogiepop Phantom












Destinada para um público que não é bem o estereótipo do amante de anime, esta série, a par de Monster, é dos melhores exemplos que podem encontrar a nível de obras mais maduras. Ambas poderão extravasar as ideias formadas que muitas pessoas podem ter deste meio, passando a fronteira que lhes permite chegar a outro tipo de audiência. Devido a isto, muitas destas séries estão sujeitas a ficar numa espécie de limbo porque não agradam aos fãs mais tradicionais de anime que preferem, em geral, outras coisas, nem a grande parte do restante público que, por norma, acarreta estigmas e clichés como pensar/dizer que anime é para miúdos, é simplesmente bonecos e opiniões afins.



Um dos pormenores comuns a muito do anime deste género passa logo pelas músicas empregues no genérico de introdução e nos créditos finais. Ao contrário de tantos outros exemplos onde impera a pop japonesa ou o rock japonês sem grande sentido de ligação ao que estamos a ver, o que inúmeras vezes causa um choque tremendo, nestes casos costuma estar tudo ligado e pensado ao pormenor. Texhnolyze segue essa tradição com uma introdução despoletada pela excelente faixa 'Guardian Angel' de Juno Reactor, projecto internacional de culto nas vertentes mais viradas para a fusão e para o trance na música electrónica. O tema dos créditos finais, japonês, bastante calmo e melancólico em contraste, encaixa que nem uma luva na altura em que surge e em relação ao conteúdo da série.



A história coloca-nos num ambiente futurista apocalíptico com algumas ligações à cultura cyberpunk. A acção decorre na cidade decadente que dá pelo nome de Lukuss (Lux consoante as versões), onde gangues, máfia, pobreza e, mais importante que tudo, os implantes cibernéticos de membros que dão nome à série, convivem numa degradação social sem piedade, que reflecte alguns dos recantos mais sórdidos da natureza humana. Texhnolyze não se coíbe de mostrar cenas violentas e a narrativa avança muitas vezes visualmente e não por diálogos convencionais, a tal ponto que o primeiro episódio não tem quase falas nenhumas, mas é um exercício audiovisual portentoso.



A animação, apesar de todo o ambiente negro, é um dos pontos altos. Nota-se uma atenção ao pormenor quase obsessiva em certas cenas, assim como o uso de diversos efeitos e filtros gráficos. A visão cibernética sempre que mostram o mundo pelos olhos de alguém com implantes é apenas um dos exemplos. Tudo isto dá ao todo um aspecto cinematográfico e a qualidade mantém-se alta e coesa ao longo de toda a série, o que é de louvar quando comparado com outras séries de televisão em que existe a tendência para inconsistências qualitativas devido às mudanças na equipa que vai fazendo os episódios.



A nível de personagens há algumas centrais, com destaque para Ichise, um lutador de rua, Onishi, que é um dos líderes da máfia local, Yoshii, uma misteriosa personagem que está de passagem por Lukuss, e Ran, uma rapariga que recebe estranhas visões do futuro. Tanto o percurso das personagens como a narrativa não são fáceis de seguir, e mesmo após o final há muita coisa que fica no ar e sujeita à interpretação pessoal de cada um. Tendo em conta que Texhnolyze conta com elementos na sua equipa técnica que trabalharam em outras séries 'difíceis' como Serial Experiments Lain e Haibane Renmei, não haver respostas fáceis a certas questões já parece ser a norma.



Para quem gosta de ambientes mais realistas, sérios e futuristas, esta é uma excelente proposta, mas há que ter em conta o ritmo lento das coisas, assim como o ambiente depressivo de toda a obra, o que requer uma pré-disposição particular para a apreciarmos como deve ser. O final da série, sem entrar em detalhes, acaba por ser o culminar de tudo, tornando Texhnolyze num gigantesco soco no estômago. Não se fica indiferente.

Texhnolyze não é uma obra de anime convencional, nem é perfeita. Aposta mais em mostrar-nos uma visão pessimista do futuro, do que somos capazes como seres humanos e dos vários elementos presentes na cidade imaginária de Lukuss, do que propriamente numa narrativa totalmente clara ou focada apenas no percurso das personagens. Estas últimas não têm sequer a profundidade de outras séries e muito fica no ar sobre elas. O foco de Texhnolyze é, no fundo, a experiência de desconforto que nos proporciona.

2 comentar

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Anónimo
admin
02 julho, 2009 07:23 ×

Realmente é um anime dificil de criar um certa admiração;Ele termina e varias duvidas ficam no ar (e são dificeis de ser esclarecidas) pelo que eu lí sobre ele, sinceramente, esperava muito mais.
Prefiro o Ergo Proxy

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02 julho, 2009 14:54 ×

Para mim é o contrário. Ergo Proxy começa muito bem, alto potencial, mas depois perde-se completamente e foi uma desilusão para mim heheh. :)

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