10 anos de Cellophane: celebrar o caos contínuo


Um misto de surpresa e estranheza. Foi assim que dei comigo a pensar nesta efeméride. Os leitores, as bandas de música, as editoras, as amizades, foram muitas as relações que se foram construindo com o tempo e várias perduram até hoje. Mas antes de me instalar nesta casa cheguei a experimentar outros dois blogues, um deles com o nome sui generis “The Diary of Hate Project” (retirado de uma frase e música do filme The End of the Affair) que, ao contrário do que tal título poderia indiciar, baseava-se já na premissa de tentar oferecer algo de positivo.


Quem me iniciou nestas lides da blogosfera foi o meu amigo de longa data André Gonçalo que, em determinado momento da vida, me desafiou a criar um blogue devido à minha apetência para a escrita. E assim foi. Aparte os tais dois blogues iniciais, este onde nos encontramos sofreu mudanças radicais com a idade, em particular no design, o que serviu também para treinar e aprofundar os meus conhecimentos no que toca a web design e não só. Da tendência para os fundos pretos com o uso predominante de certas cores (vermelho e branco) para o que podem ver actualmente e com um layout que se adapta de forma automática a diferentes resoluções, há todo um percurso evolutivo que reflecte, igualmente, a pessoa que sou agora. Nesse sentido, o tom da linguagem também foi mudando para uma vertente mais sóbria, assim como a própria qualidade da escrita em si amadureceu o que, em boa parte, se deve à minha relação pessoal com a Patrícia que me incentiva, constantemente, a tentar ser melhor.


Este blogue partiu da ideia inicial de juntar pessoas para um mesmo fim sob a designação de Projecto Cellophane. Mudar o mundo, em geral, o nosso ou o de alguém, nem que seja um pouquinho, através da criação e de partilhas que nos mexam cá dentro. Do foco inicial na música, gradualmente passou a abranger outras áreas do foro artístico e tornou-se, também, um veículo criativo pessoal à medida que isto se tornou mais individual do que o previsto.

O nome apresentar-se bilingue não é por mero acaso ou um erro ortográfico por distracção. Tal deve-se à audiência, que desde as origens deste blogue sempre se dividiu em falantes de língua portuguesa e inglesa.
Tal só foi possível devido ao apoio de todos vós, leitores e amigos, a esta relação que se tem construído ano após ano.

Mais de 340.000 visualizações. Em dez anos tal número não parece assim tão significativo, mas para um blogue como este, de catalogação impossível, específico e mergulhado num caos vincado de conteúdo dividido por várias áreas, sem uma temática concreta, é bastante bom. Junte-se a isto eu pautar pela discrição/reclusão, não ser alguém com “nome” e não escrever sobre temas ou artistas que se designem como “populares”.


Um pequeno olhar sobre as estatísticas de quem tem visitado este espaço dá-nos alguns pormenores interessantes. A larga maioria de visitantes é oriunda de Portugal e dos Estados Unidos. Seguem-se depois o Brasil, Suíça, Rússia, China, França, Hungria, Alemanha e o Reino Unido. Quem acede este blogue fá-lo maioritariamente pelo endereço dele e não através de um motor de busca, o que pode estar relacionado com uma gradual conquista de público fiel ao longo dos anos. Mas com o tempo os acessos têm surgido, sem grande surpresa, através do Facebook. A minha conta nessa rede social data, mais ou menos, de 2007 também, mas só em 2009 é que ela passou a estar mais activa. Com o sucesso do Facebook a interacção e visitas nos blogues desceram de maneira significativa. Entre 2015 e 2016 muitos acabariam por morrer. Em 2017 pouca gente aposta neles com excepção dos dedicados à moda.


Se é verdade que as entradas (são já perto de 2000 e entre elas contam-se centenas de podcasts e textos de ficção partilhados de forma gratuita) neste blogue se tornaram mais erráticas de há uns anos para cá, certo é que ele não tem deixado de evoluir (com imensas mudanças graduais invisíveis pelo caminho). No ano passado fundiu-se, inclusive, com o conceito editorial, com a publicação de livros, postais, marcadores, fotografias e postais da minha autoria, entre outras coisas. Tal só foi possível devido ao apoio de todos vós, leitores e amigos, a esta relação que se tem construído ano após ano. A salientar também as colaborações como a que aconteceu recentemente em 2015, por exemplo, em que elaborei o design para o álbum Hey Dum Dum dos Red Painted Red, o que surgiu após a amizade e culto que desde início prestei à banda. Ou os agradecimentos no interior de discos e páginas dos Black Swan Lane, banda que me inspira constantemente e com quem mantenho uma forte amizade desde o seu primeiro álbum editado em 2007. Esta aposta no desacelerar dos dias, no combate ao cinzentismo, é para continuar e com a filosofia de partilha que tem caracterizado este blogue, em que só falo ou promovo algo que me toque de alguma forma.

A história de Diana e Afonso



É nesta continuidade que residirá o futuro próximo deste blogue. Os podcasts e outros conteúdos são para manter, em detrimento de actividades como noites de música que deixaram de fazer sentido há muito. Uma das próximas novidades associadas que podem contar é a presença dos livros Histórias em Cellophane e Moléculas na "XXI Feira Pan-Amazônica do Livro" que decorrerá de 26 de Maio a 4 de Junho em Belém-Pará, no Brasil. Obrigado Daniel da Rocha Leite e Luciana Brandão Carreira pela amizade e por esta oportunidade. A disponibilização de tote bags com design e trabalhos da minha autoria está também nos planos como poderão verificar por algumas das imagens aqui. O uso de newsletters para conteúdos exclusivos gratuitos, como aconteceu no período de Natal/Ano Novo de 2016, é algo que deverá acontecer mais vezes. E os novos livros claro, que continuam em curso.


Muito mais haveria a dizer sobre este percurso e experiência recompensadora, mas como tanto já foi escrito noutras ocasiões por aqui e para não correr o risco de me repetir prefiro deixar um convite à exploração do blogue. Um muito obrigado novamente a quem me segue e apoia. Aos leitores, às bandas, às editoras, aos amigos, à minha família. Sem vós nada disto faria sentido. :)