Fontória (09-10-2014) - Impressões e começo da noite


Dia cinzento, noite a condizer. A casa ainda está vazia quando se ouvem as primeiras notas de música, um processo normal e que se repete um pouco por todo o lado. Os hábitos nocturnos dos portugueses assim o dita há alguns anos.

Cada momento é importante, tenho-o dito desde sempre. Os começos, o meio, o fim, as divagações e a improvisação total, a experiência nunca ser igual. O que podem escutar mais abaixo são os primeiros 22 minutos do meu djset esta última quinta-feira no Fontória. A introdução que pede olhares estranhos e atenção, a melancolia, a beleza sem vergonha, o crescendo gradual que determina estados de espírito. É fácil de perceber a direcção orientada pelas guitarras após a música de Patrick Phelan, numa noite que teve direito a tudo e a um final de arrepiar em que a música portuguesa teve lugar de destaque por opção minha e por requisição do público. Não foram muitos os que apareceram, mas nesses últimos momentos exclamaram “genial” algumas vezes, à medida que as palavras dos Ornatos Violeta e de José Afonso pintavam as paredes após a poesia de António Variações e as danças festivas ao som de valsas.

Muito sério e conceptual, dizem-me isso algumas vezes, primeiras impressões que tendem a não ler as entrelinhas, as frases regadas de humor podre e corrosivo que acompanham as publicidades aqui ou noutros locais, as fotografias parvas, o sorriso que brinca com as possibilidades e com as sensações, as próprias opções musicais, grande parte a pedir respostas corporais impossíveis. Sou muito sério sim, a trabalhar. O resto é sentir, apenas.

Foi uma noite em que pensei várias vezes também nas pessoas que partiram cedo demais, repentinamente, com todos os sonhos do mundo ainda, como referia no artigo que acompanhava a publicidade desta noite. Razão mais do que suficiente para continuar a tentar viver ao máximo e a tentar deixar por cá alguma marca, num ritmo de actividade e criatividade ininterrupta.