"À beira deste rio, olho para a face distorcida na água e pondero como seria bom que tudo desaparecesse, que tudo fosse levado por uma qualquer corrente momentânea como se este rio fosse um mar em fúria.
Estou tão farto de vocês, de ouvir a vossa voz e de ver as vossas caras que até dói, se bem que a culpa é minha de não me fazer à vida. Porque custa tanto darmos um salto para o abismo quando até sabemos que nem iremos cair?
Pego cuidadosamente numa pedra e faço-a dar pequenos saltos à superfície, soltando um pequeno sorriso enquanto recordo tempos que já lá vão, em que tudo parecia mais simples, mas ao mesmo tempo menos interessante agora que penso nisso com outros olhos e com a típica sabedoria que se vai ganhando aos poucos com a idade. Tudo tem o seu sentido e altura certa.
Deambulo uns minutos pela margem, abstraindo-me dos barulhos em redor, dos carros que buzinam incessantemente, das crianças que brincam com os pais, em que umas são mais reguilas e traquinas que outras, dos pássaros que levantam as folhas secas do chão só para tentarem perceber o que é aquilo, e dos meus fantasmas e tormentos.
Continuo a andar e a pensar numa miríade de coisas ao mesmo tempo, sendo talvez esse o grande problema, pensar de mais, sobressaindo neste momento um pensamento em relação a outros: mudanças precisam-se, e com urgência."
Nuno Almeida, Lugares Comuns, 2008
Boomp3.com
Boomp3.com
Estou tão farto de vocês, de ouvir a vossa voz e de ver as vossas caras que até dói, se bem que a culpa é minha de não me fazer à vida. Porque custa tanto darmos um salto para o abismo quando até sabemos que nem iremos cair?
Pego cuidadosamente numa pedra e faço-a dar pequenos saltos à superfície, soltando um pequeno sorriso enquanto recordo tempos que já lá vão, em que tudo parecia mais simples, mas ao mesmo tempo menos interessante agora que penso nisso com outros olhos e com a típica sabedoria que se vai ganhando aos poucos com a idade. Tudo tem o seu sentido e altura certa.
Deambulo uns minutos pela margem, abstraindo-me dos barulhos em redor, dos carros que buzinam incessantemente, das crianças que brincam com os pais, em que umas são mais reguilas e traquinas que outras, dos pássaros que levantam as folhas secas do chão só para tentarem perceber o que é aquilo, e dos meus fantasmas e tormentos.
Continuo a andar e a pensar numa miríade de coisas ao mesmo tempo, sendo talvez esse o grande problema, pensar de mais, sobressaindo neste momento um pensamento em relação a outros: mudanças precisam-se, e com urgência."
Nuno Almeida, Lugares Comuns, 2008
Boomp3.com
Boomp3.com
Tem formação em multimédia, fotografia e jornalismo. Mas mais do que isso, tem mundos na cabeça e caleidoscópios de actividade criativa.
3 comentar
Click here for comentarInteressante.
ReplyAssim de repente apetece-me dizer 2 coisas: se é sabido que não se cai desamparado saltar é uma boa opção; mudar pode ser sinónimo de evoluir.
A palavra bonita do último parágrafo é s. f. logo: "numa miríade" - espírito de revisora sempre atenta :)
Deixou-me acordada este txt, a esta hora devia ser o contrário, vou adormecer a pensar.
§
Eeeh Sofia! Não deixas escapar uma hem? :p
ReplyAssim é que é! :D
Também gostei do texto.. mas tenho que voltar e rele-lo com olhos de ler, porque fiquei só a pensar no post em cima (Apparat)e agora não me consigo concentrar. :-|
[.. quero.. eu.. ouvir.. sim?]
**
Sofia, se a ti te deixou acordada, algumas coisas dele atormentam-me (que dramático) nestes últimos tempos. E erro corrigido, thx. ;)
ReplyLiliana, tu e o Apparat pa... :p
ConversionConversion EmoticonEmoticon