"Hoje acordei com uma insatisfação de morte e um formigueiro que não me deixa estar quieta. Tenho três amantes, vulgo gajos, e nenhum me dá em pleno o que preciso, e esta era uma confissão que precisava de ser feita.
O João é muito porreiro e dá umas quecas fixes, mas de cada vez que acabamos o que temos a fazer o ritual é sempre o mesmo. Ora se acende um cigarro, ora se arranja uma sandes e finge-se que não aconteceu nada. Abraços, beijos e outras tretas emocionais não são para aqui chamadas e de cada vez que vou à casa de banho lavar-me só sinto o desejo por limpar os seus restos dentro de mim e nada mais. Sinceramente, até acaba por ser isto que me agrada nele, porque também fora a parte física ele não tem lá muito jeitinho para mais nada. É assim a vida.
O César é totalmente o oposto. É tão amoroso que até chateia e irrita, dá-me atenção mesmo quando quero ficar só, prendas e muitos abraços, mas também, além disso é complicado. De cada vez que está em cima de mim a bombear só penso cá para comigo para ele despachar aquela merda. Ele não tem culpa, mas realmente não me desperta a alma nem me dá pica. Gosto que me façam suar e sentir desejada e tu, meu querido, não és a pessoa para isso. Mas gosto do teu outro lado, o que me tenta dar conforto confesso, sendo isso que me vai deixando ficar nesta teia algo confusa.
Sei que não existem gajos perfeitos, mas irra que já aparecia uma combinação melhorzita, o que me leva agora ao Rui. Rapaz porreiro, aparência agradável e excelente a nível de estímulos intelectuais, mas uma nulidade a nível de expressão emocional e física. Nunca sei o que está a pensar e nunca percebi até hoje se gosta de mim, mas isso intriga-me e vou vendo se alguma surpresa surge dali porque sinto uma falta tremenda de algo novo. Bom rapaz para os copos também, mas já me davas uma bem dada, ou sei lá, um beijo em que sítio fosse, invés de ficares sempre a olhar para mim sabe-se lá porquê. E ainda dizem que nós é que somos complicadas.
Devo ser uma gaja difícil, penso eu, nalguns daqueles momentos em que as maiores dúvidas nos assaltam e tomam conta dos nossos sentidos, mas não, não acredito nisso. Aliás, até me considero bem simples e não peço assim tanto. Claro que isto não é justo para nenhuma das pessoas, mas os tempos são outros e temos de procurar encontrar o que queremos, seja lá onde for e reservo-me o direito de ser exigente.
Quero ver nos teus olhos que me queres e que tens algo aí que arde de desejo pela minha pessoa, quero sentir que posso contar contigo quando estiver doente também, quero ter noites de loucura, embriaguez e pensamentos lunáticos, em que ninguém além de nós percebe porque nos estamos a rir que nem uns perdidos. Quero que me acompanhes sem me sufocar, que me tires do sério e que discutas comigo porque gosto que me dêem luta, que exista fricção e que cada pessoa tenha a sua personalidade vincada. Quero que te lembres de mim quando estiveres perdido e que me procures quando já nada fizer mais sentido, quero-te “lá”, e sentir que estás sempre “ali”, que NÓS estamos sempre “ali”, para ambos, em que momento for, seja no quarto ou em qualquer divisão da casa e qualquer altura do dia. Quero sentir que somos duas entidades que trabalham para o mesmo fim, e não algo que está aqui de passagem, como se tudo fosse um mero passatempo ou rotina.
Quero… poder dizer que tenho um companheiro."
Nuno Almeida, Lugares Comuns, 2008
boomp3.com
O João é muito porreiro e dá umas quecas fixes, mas de cada vez que acabamos o que temos a fazer o ritual é sempre o mesmo. Ora se acende um cigarro, ora se arranja uma sandes e finge-se que não aconteceu nada. Abraços, beijos e outras tretas emocionais não são para aqui chamadas e de cada vez que vou à casa de banho lavar-me só sinto o desejo por limpar os seus restos dentro de mim e nada mais. Sinceramente, até acaba por ser isto que me agrada nele, porque também fora a parte física ele não tem lá muito jeitinho para mais nada. É assim a vida.
O César é totalmente o oposto. É tão amoroso que até chateia e irrita, dá-me atenção mesmo quando quero ficar só, prendas e muitos abraços, mas também, além disso é complicado. De cada vez que está em cima de mim a bombear só penso cá para comigo para ele despachar aquela merda. Ele não tem culpa, mas realmente não me desperta a alma nem me dá pica. Gosto que me façam suar e sentir desejada e tu, meu querido, não és a pessoa para isso. Mas gosto do teu outro lado, o que me tenta dar conforto confesso, sendo isso que me vai deixando ficar nesta teia algo confusa.
Sei que não existem gajos perfeitos, mas irra que já aparecia uma combinação melhorzita, o que me leva agora ao Rui. Rapaz porreiro, aparência agradável e excelente a nível de estímulos intelectuais, mas uma nulidade a nível de expressão emocional e física. Nunca sei o que está a pensar e nunca percebi até hoje se gosta de mim, mas isso intriga-me e vou vendo se alguma surpresa surge dali porque sinto uma falta tremenda de algo novo. Bom rapaz para os copos também, mas já me davas uma bem dada, ou sei lá, um beijo em que sítio fosse, invés de ficares sempre a olhar para mim sabe-se lá porquê. E ainda dizem que nós é que somos complicadas.
Devo ser uma gaja difícil, penso eu, nalguns daqueles momentos em que as maiores dúvidas nos assaltam e tomam conta dos nossos sentidos, mas não, não acredito nisso. Aliás, até me considero bem simples e não peço assim tanto. Claro que isto não é justo para nenhuma das pessoas, mas os tempos são outros e temos de procurar encontrar o que queremos, seja lá onde for e reservo-me o direito de ser exigente.
Quero ver nos teus olhos que me queres e que tens algo aí que arde de desejo pela minha pessoa, quero sentir que posso contar contigo quando estiver doente também, quero ter noites de loucura, embriaguez e pensamentos lunáticos, em que ninguém além de nós percebe porque nos estamos a rir que nem uns perdidos. Quero que me acompanhes sem me sufocar, que me tires do sério e que discutas comigo porque gosto que me dêem luta, que exista fricção e que cada pessoa tenha a sua personalidade vincada. Quero que te lembres de mim quando estiveres perdido e que me procures quando já nada fizer mais sentido, quero-te “lá”, e sentir que estás sempre “ali”, que NÓS estamos sempre “ali”, para ambos, em que momento for, seja no quarto ou em qualquer divisão da casa e qualquer altura do dia. Quero sentir que somos duas entidades que trabalham para o mesmo fim, e não algo que está aqui de passagem, como se tudo fosse um mero passatempo ou rotina.
Quero… poder dizer que tenho um companheiro."
Nuno Almeida, Lugares Comuns, 2008
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7 comentar
Click here for comentarAhahahah!
ReplyEste teu texto fez-me lembrar algumas coisas... aiai! :)
Muito bom!
Gostei! :)
'És uma gaja complicada pá! :p'
**
Nós e os outros, a eterna fricção.
ReplyEra bom é que essa fricção existisse sempre, no tal sentido da luta, de puxar-se um pelo outro, apesar do tudo o que é demais também cansa claro. :p
ReplyMas também, alguma vez iremos estar satisfeitas(os) com o que temos?
Liliana, ainda bem que gostaste, e eu não sou complicada, eles é que são. :p
Eu creio ser esse justamente o 'nosso' erro. Querer algo para sempre. Porque não aproveitar quando algo é intenso? A questão está é quando saber parar.
ReplyTambém acredito que esse é precisamente um dos "nossos" erros, que por vezes acontece quando até temos, ou tivemos algo, e ficámos mal habituados, apesar de uma eventual consciencia que se as coisas fossem realmente sempre de certa maneira, elas perderiam a sua piada e carácter único resultante de serem momentos específicos.
ReplyIsto até é meio paradoxal com o que disse antes, mas o mais certo é ter-me exprimido mal com o "sempre", porque ya, desejar-se o "sempre" é utópico, além de que demasiada fricção leva em geral ao conflito entre as pessoas. Como bem dizes mais uma vez, o tal saber quando parar.
Que animal tão complicadinho que nós somos xiça. :p
haha mas essa complicação é o que nos dá a 'vontade' e o 'querer' e vontades e quereres são dificeis de se conjugar.
ReplyPodes crer, deveras complicadas de conjugar. :p
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