O Agora

"Existe algo em ti que me entorpece,
Que me acalma os sentidos,
Tal melodia doce para os ouvidos,
E néctar de flores que não se esquece.

Uma maldição misturada com prazer,
Uma vontade de nos matar,
De fugir, de gritar e de nos libertar
Desta corrente que teima em nos prender.

Há quem diga que isto é amor,
E os que dizem que é dor,
Assim como os que nada dizem.

Sinceramente não sei, e acho que não quero saber,
Pois não há nada como o agora, e viver,
Sem me preocupar se estes demónios realmente existem."

Nuno Almeida, Lugares Comuns, 2008

boomp3.com

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Sofia
admin
18 junho, 2008 22:26 ×

;)

Quais demónios?

§

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18 junho, 2008 22:30 ×

Tanto interiores, como certas pessoas em si. ;)

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Sofia
admin
18 junho, 2008 22:45 ×

Alô!
Ah, ok, pensei que te referias ao amor em si.

os demónios... podem sempre ser exorcizados! O amor, esse é bom que não acabe em tão triste fim.

Interessante o soneto, foges à métrica clássica mas compensas com imagens e elementos sensoriais. Conceptualismos à parte, gostei de o ler.

§

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18 junho, 2008 22:49 ×

Thx. :)

E ya, eu não ligo muito a métricas tipo ter x sílabas e afins dos sonetos e outros termos e formas. Apenas calhou sair assim, duas quadras e dois tercetos (será que são estes os termos? já nem me lembro :p)

Enfim, até é mais ou menos positivo este, para variar um pouco do "negro" dos outros textos. ;)

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Sofia
admin
19 junho, 2008 00:19 ×

Sim, a terminologia é essa, mas isso é o que menos importa. Tenho para mim que para quem escreve/cria com alma a forma é de tudo o que menos importa e, de certo modo, está inerente à forma como se expressa o pensado. Não estou a ver os mais geniais poetas ao longo dos séculos sentados a escrever ,"lançados", e derrepente param e passam a questionar tipo 'esta palavra não pode encaixar aqui por não concordar com a rima', ou 'não posso escrever mais nada porque me quebra a métrica', ou 'agora vou passar às odes...' Não!

Esse tipo de coisas interessa a quem quer imitar a beleza e a ordem criada por aqueles que o fizeram naturalmente, ou então quando se quer recriar um certo passado de glória e vai de imitar a forma dos antecessores. Os Romanos fizeram-no em relação aos Gregos, mais tarde o Renascimento, a época Barroca com o Romantismo levado ao extremo... enfim: Nada se perde, tudo se tranforma, já dizia o outro!

Agora, sobre as tais "formas" normalizadas, para mim não são mais do que a forma normal de organização do pensamento escrito a pensar em quem lê. Uns têm, outros não. E mesmo os que têm, uns são mais geniais do que outros. Noutra arte, vêm-me à ideia os quadros da Paula Rego: por cada quadro que chega à exposição quantos esboços e ensaios existiram? E desses quantos não deram sequer em nada e foram parar ao lixo?

§
[se receberes este comment a duplicar, ignora pf. enviei pelo mail mas aparentemente não fica visível, portanto, e para que não se perca, vou enviar de novo]

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19 junho, 2008 02:52 ×

Ya, se bem que alguns deles por vezes levam-me a pensar precisamente isso, que estiveram ali n tempo até bater tudo certo, o que levava depois a altas discussões nas aulas de português entre mim e os professores. :p

No que me toca a minha tendência é o que sair saiu, seja em que forma for. Por vezes releio coisas antigas e penso que poderia fazer novas versões mais "bem escritas", usando mais vírgulas e outras artimanhas que aprendes com o tempo, mas depois lá caio em mim e deixo ficar porque nada como o sabor do momento, das alturas, sensações e afins de quando se fez algo.

Felizmente ainda hoje consigo manter isso, onde me deixo ir até o cérebro me dizer que já chega, que ali acaba a viagem. ;)

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