"Movimentos lânguidos, varões, contactos frios, observações, dá-me o que tu queres e dá-me o que eu preciso, pois é na base da troca que gira este nosso mundo, esta realidade que criámos nos nossos tempos livres, dos desejos de querermos ir um pouco mais além, de sairmos deste esgoto e podridão, de ratazanas e criaturas disformes, de um vácuo em que ninguém esboça um olhar sequer. Frio, muito frio.
Escuridão, luzes, candeeiros, um acende e apaga que não se acusa, que se confunde com o que penso ver, tremores, água que sobe pelos joelhos. Deito-lhe as mãos, levando-as de seguida à minha cara, mas não consigo limpar esta confusão, questionando-me no processo sobre o que existe para limpar, se o quero fazer, e se tudo isto não é mais um esquema da nossa parte, mais um jogo que criámos para combater a nossa rotina, e dos outros.
Já pensei em tirar-nos fotos, mas perdi há muito a capacidade de foco, a concentração necessária para nos achar e para perceber onde está o centro e nosso ponto de apoio, porque sinto-nos a cair…, e há muito, como um desejo de eternidade que nos foi oferecido sem o termos desejado realmente.
Arranho os meus braços para sentir um pouco de vida, corto um pedaço de ti para te beber da melhor maneira, com a sofreguidão de quem não se alimenta há dias, semanas, meses, afasto-te e agarro-te, abano-te a ti e a este nosso mundo, à procura de algo, sem planos, nem discernimentos, como embarcações à deriva que não encontram um porto, mas que também não encalham.
Temos marcas pelo corpo todo, símbolos. Isto sou eu, isto és tu, isto é algo que só nós podemos, e conseguimos, ver. Isto é paixão, amor e tesão, isto somos nós, como tal ama-me, e depressa, sem fôlego. Fode-me como se não houvesse amanhã.
Obrigado.
Amo-te."
Nuno Almeida, Lugares Comuns
2008, Textos Soltos
boomp3.com
Escuridão, luzes, candeeiros, um acende e apaga que não se acusa, que se confunde com o que penso ver, tremores, água que sobe pelos joelhos. Deito-lhe as mãos, levando-as de seguida à minha cara, mas não consigo limpar esta confusão, questionando-me no processo sobre o que existe para limpar, se o quero fazer, e se tudo isto não é mais um esquema da nossa parte, mais um jogo que criámos para combater a nossa rotina, e dos outros.
Já pensei em tirar-nos fotos, mas perdi há muito a capacidade de foco, a concentração necessária para nos achar e para perceber onde está o centro e nosso ponto de apoio, porque sinto-nos a cair…, e há muito, como um desejo de eternidade que nos foi oferecido sem o termos desejado realmente.
Arranho os meus braços para sentir um pouco de vida, corto um pedaço de ti para te beber da melhor maneira, com a sofreguidão de quem não se alimenta há dias, semanas, meses, afasto-te e agarro-te, abano-te a ti e a este nosso mundo, à procura de algo, sem planos, nem discernimentos, como embarcações à deriva que não encontram um porto, mas que também não encalham.
Temos marcas pelo corpo todo, símbolos. Isto sou eu, isto és tu, isto é algo que só nós podemos, e conseguimos, ver. Isto é paixão, amor e tesão, isto somos nós, como tal ama-me, e depressa, sem fôlego. Fode-me como se não houvesse amanhã.
Obrigado.
Amo-te."
Nuno Almeida, Lugares Comuns
2008, Textos Soltos
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8 comentar
Click here for comentarCá estou de novo.
ReplyQue "Obrigado" tão terrivelmente sarcástico!
E que excelente declaração... mais de um "Quero-te" do que de um "Amo-te". Mas excelente na mesma!
§
Hello. :)
Replyheheh, thx mais uma vez. Neste caso acho que o "quero-te" e o "amo-te" andam de mãos dadas, tendo em conta a paixão que parece unir as personagens do texto.
Mas confesso que a início, quando comecei a escreve-lo, não estava nada à espera que tomasse estes contornos e que se focasse again na química entre duas pessoas. Beca weird.
beeem...concordo com a lucy.
ReplySe bem que o amor é eterno até acabar!!!
com a lucy? ;)
ReplyE sim, também concordo. Mas este texto nem é negativo. Acho que é mais aquela onde visceral de paixão quando duas pessoas se curtem bue.
Bem, se o dizes...
ReplySabes que quando o li pareceu-me mais aquela onda da quimica marada entre duas pessoas...não amor...pela forma cm o personagem descreve as coisas...
Mas isso é o meu ponto de vista.
Bem, no fundo eu também não falo em amor agora que penso nisso, é mesmo quimica visceral entre eles, mas isto acaba por cada pessoa tirar a sua ilação, eu inclusive, já que ao escrever saio de mim para algures. :)
ReplyO amor é bonito, mas confesso que também gosto destas químicas. *runs*
beeem... que cena intensa... gostei do desenrolar da situação.
ReplyPor acaso quando comecei a ler pensei que fosse terminar 'mal', mas terminou da melhor forma possível. :)
Tá fixe!.. muito bem... muito se passou por aqui na minha ausência. :)
**
Eu também a dada altura, lá para o meio do texto, pensei que as coisas fossem correr para o torto, na do ok, lá vamos nós, mas depois como que elas ultrapassaram as partes menos boas e veio ao de cima a paixão entre ambas.
ReplyThx. :)
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