"Há algo de fascinante na habilidade de não conseguirmos dormir. Ficamos mais eléctricos, conseguimos observar os ciclos dia/noite, a maneira como o sol se põe, as cores do céu, as formas das nuvens, o camião do lixo que passa sempre a determinadas horas na rua, os primeiros comboios da manhã e o contraste entre a azáfama matinal das pessoas, como de se formigas se tratassem, e as sombras que vagueiam na rua à noite, à espera de momento certo para ganharem forma e vida.
Os olhos nunca descansam, ganham tiques, tremem involuntariamente, enquanto a tua energia natural te carrega aos ombros, como uma mãe que te embala nos braços carinhosamente.
No meio disto tudo estás tu, tecnologia, que nos ajuda a viver e passar o tempo. O que faríamos nós sem as nossos canais de televisão, sem o hábito de a deixarmos acesa mesmo que raramente esteja a dar algo em que estejamos verdadeiramente interessados?
Confesso que por vezes gostava de a desligar, e a este PC, e atirar o rato contra a parede, mas não consigo. Olhar para a janela e ver o que se passa diariamente nas ruas já não me fascina, já não me cativa. Já ponderei em sair daqui, mas falta-me a vontade, além de que tenho medo de descobrir que realmente existe algo além deste mundo que criei, deste refúgio.
Fico horas a olhar para o nada, fico dias a admirar objectos, fico semanas sem fazer a barba enquanto olho para o espelho à procura não do que sou, mas de respostas para outro tipo de perguntas, para as questões que vou colocando na minha cabeça para me entreter por breves momentos.
Muito gosto eu de brincar comigo, de tentar perceber até onde posso, e me deixam ir."
Nuno Almeida, Lugares Comuns, 2008
Os olhos nunca descansam, ganham tiques, tremem involuntariamente, enquanto a tua energia natural te carrega aos ombros, como uma mãe que te embala nos braços carinhosamente.
No meio disto tudo estás tu, tecnologia, que nos ajuda a viver e passar o tempo. O que faríamos nós sem as nossos canais de televisão, sem o hábito de a deixarmos acesa mesmo que raramente esteja a dar algo em que estejamos verdadeiramente interessados?
Confesso que por vezes gostava de a desligar, e a este PC, e atirar o rato contra a parede, mas não consigo. Olhar para a janela e ver o que se passa diariamente nas ruas já não me fascina, já não me cativa. Já ponderei em sair daqui, mas falta-me a vontade, além de que tenho medo de descobrir que realmente existe algo além deste mundo que criei, deste refúgio.
Fico horas a olhar para o nada, fico dias a admirar objectos, fico semanas sem fazer a barba enquanto olho para o espelho à procura não do que sou, mas de respostas para outro tipo de perguntas, para as questões que vou colocando na minha cabeça para me entreter por breves momentos.
Muito gosto eu de brincar comigo, de tentar perceber até onde posso, e me deixam ir."
Nuno Almeida, Lugares Comuns, 2008
Tem formação em multimédia, fotografia e jornalismo. Mas mais do que isso, tem mundos na cabeça e caleidoscópios de actividade criativa.
8 comentar
Click here for comentar"tenho medo de descobrir que realmente existe algo além deste mundo que criei, deste refúgio."
ReplyEsse. Esse é o medo que se tivesse coragem mataria com as minhas próprias mãos.
Não é com orgulho que digo que já tive mais de 48h sem dormir e digo-te que uma pessoa fica como se estivesse num sitio qualquer que não este que conhecemos. Os olhos ficam secos, tão secos que até a água os faz arder. Ficas mais atendo e ficas como que maravilhado com as coisas que te apercebes, como se te perguntasses como é que nunca tinhas reparado antes. De quando em quando tens flashes, como se fossem visões. Pelo que me explicaram, quando se fica sem dormir durante tanto tempo, sonhas acordado. A adrenalina faz de ti electrico, mas a vontade perde-se algures no meio e fica a inércia.
Muitas vezes, quem sabe pela nossa condição de ser humano sempre insatisfeiros, temos essa vontade de largar tudo o que temos, numa mistura de sabermos que existe muito mais além do que conseguimos até ao momento.
ReplyAcaba por ser um medo e receio natural darmos este tipo de saltos, porque sabes que com isso podemos ficar outra vez sem nada e na corda bamba digamos assim.
Eu durmo pouco, muito pouco, como já deve ter dado para perceber por algumas conversas por aqui no site, e quem sabe seja por isso que a minha cabeça anda sempre a 300 à hora, mas isso traz sempre imensas coisas negativas, nem que seja um cansaço extremo que vai muito além do físico, como a facilidade em que podemos ficar inertes devido a isso, por pifares.
Ainda ontem vinha da noite no BB, a conduzir na estrada e tal, com muito poucos carros, e senti bem na pele o peso da vida que levo e que escolhi pra mim. Ou que ela escolheu para mim, who knows.
É um cansaço extremo e luta constante contra a actividade cerebral, que já não se cura nem que dormisse dias seguidos. +_+
Sabes, eu creio que precisamos, antes de pensar em seguir impulsos, é parar um pouco, olhar à nossa volta e tomar um pouco de consciencia o quão longe já chegámos e se estamos dispostos a deixar isso tudo para trás. Mas sim, ir além dos nossos limites é sempre muito tentador se não desafiante.
ReplyJá percebi sim pelo teu blog. Eu infelizmente é insónias mesmo e não por opção, se assim se pode dizer. Mas também já me aconteceu domir um fds seguido. +_+
Enquanto estiveres satisfeito com a tua vida profissional, neste caso, vai até onde puderes ir. :)
Eu não consigo dormir mais do que 3/4 horas em média há mais de 10 anos lol. Gosto bue de dormir, mas não faço ideia porquê, se deitar-me mais cedo fico a dar voltas na cama, e mesmo nos fds, se me deitar tipo 7 da manhã, às 10/11 já estou a dar voltas novamente. gah.
ReplyMas insónias acaba por ser pior.
Apesar de ser muito dado a impulsos, no fundo até me acho uma pessoa algo paciente, dependendo das situações, mas o bichinho está sempre cá, que te deixa algo inconstante, o que por um lado pode ser mau, mas por outro é o que te acaba por fazer seguir em frente.
Olho para trás e realmente já se fez muita coisa em muitos aspectos, e continua-se a fazer, o que é das coisas que mais me orgulho, tendo em conta o que vou vendo à minha volta, mas ya, continuo a sentir que "something not right".
O teu último parágrafo, acerta num ponto chave para algumas das minhas preocupações actuais, visto que depois de se ter conseguido muita coisa, as cenas como que morreram devido a diversas circunstancias. Saltar ou não, eis a questão. ;)
Eu também não durmo muito É um desperdicio de tempo. Tento eu convencer-me! hehe Mas o que é paradoxal, é que gosto de dormir.
ReplyToda a minha ouvi "Pensa antes de falar". Das mais variadas pessoas. Hoje em dia penso tanto que me esqueço de falar, ou então falo sem parar até ficar sem voz, o que pensei vezes sem conta durante anos! As coisas que nos dizem quando somos crianças... Seguir um impulso só se estiver a comprar livros, dvds ou cds. hehe De resto é tudo muito bem pensado.
Se saltar corro o risco de parecer uma rã. LOL
lol, uma rã ahahah. Aiai.
Replyoh, eu hoje falo/escrevo demasiado. Antes não era nada assim, mas com o tempo, e idade, à medida que te sentes bem contigo próprio e te aceitas como és, deixas de ligar a certas coisas, ao que possam pensar de ti e por aí adiante, porque é como se não tivesses que provar mais nada. Tipo, és assim e acabou. ;)
Continuo a seguir muito os impulsos, e por vezes espalho-me ao comprido por causa disso, mas ya, em certas coisas é óbvio que também tenho de pensar muito bem antes de tomar certas acções. Também não sou assim tão maluco. :p
hehe
ReplyEu já deixei de me 'adaptar' aos outros e passei a seguir a filosofia 'quem gostar de mim, tem que gostar como sou.' E até agora tem resultado.
Agora por estarmos a falar de impulos lembrei-me daquele perfume Impulse. LOL já tou toda queimadinha, isto é o resultado de não dormir nada.
ahah, bem, eu também costumo dizer que já fritei há muito tempo por causa disso, de não dormir.
ReplyE yep, acho que hoje em dia não faz muito sentido não seguirmos outra filosofia que não essa, senão não estaríamos a ser honestos connosco próprios nem com as outras pessoas.
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