Lugares comuns

"Autocarros, portas com smiles, linguagem tecnológica, o quotidiano e o mundo em constante mutação à nossa volta.

Ao mesmo tempo olhamos com alguma impaciência, vezes sem conta, numa mistura de tique nervoso, reflexo e comportamento inconsciente, para o ecrã minúsculo do telemóvel. À medida que os contactos humanos vão sendo cada vez mais impessoais, a ligação que temos com o simples bip de uma sms é cada vez maior, numa ansiedade que corrói as entranhas, à espera de um som, de um pequeno sinal que nos faça sentir vivos e eventualmente importantes, nem que seja para nós próprios.

Em cinco minutos olhei umas 30 vezes para o ecrã de maneira compulsiva. Ele avisa-me sempre com um bip ou uma vibração quente quando alguém me liga ou escreve, mas tenho sempre de olhar para ele de qualquer maneira, para o meio daquele universo impessoal com wallpapers ternos e lembranças fugazes do que somos e do que representa a nossa existência neste universo."

Nuno Almeida, Lugares Comuns
2007, Textos Soltos