Budapeste: Caravaggio e a importância da Cultura


Após um ano na cidade de Budapeste é possível perceber que a Cultura e a Arte são assuntos sérios e importantes para os Húngaros. É tudo uma questão de prioridades, tal como acontece com a excelente rede de transportes públicos no centro da cidade. Um dos exemplos mais recentes foi a nossa visita à exposição de Pintura 'Caravaggio to Canaletto' patente no Museu Nacional de Belas Artes.


A dimensão e importância das exposições em si são desde logo um sinal da diferença de realidade em relação a Portugal e que só tem comparação com Berlim e Paris do que já pudemos vivenciar até ao momento.

Estamos a falar de uma cidade que no pouco tempo que cá estamos já viu exposições de Paul Cézanne (Pintura), Vivian Maier (Fotografia), Rodin (Escultura), Marc Chagall (Pintura), Robert Capa (Fotografia), Egon Schiele (Pintura), Helmut Newton (Fotografia), Honoré Daumier (Pintura/Desenho), Monet (Pintura), Raphael (Desenho) ou Gauguin (Pintura), entre muitas outras. E no futuro estão já agendadas exposições de Toulouse-Lautrec (Pintura - Abril 2014) e de Rembrandt (Pintura - Outubro 2014) por exemplo. Isto para não falarmos dos vários espectáculos de Dança, Teatro, Música ou de Ópera. Mas até mais do isso, o que nos tem fascinado é a afluência de público de todas as idades.


Tal como aconteceu com outra exposição de Pintura que visitámos neste espaço, nomeadamente a de Egon Schiele (que partilhava atenção com a de Helmut Newton), existiam três bilheteiras com filas de pessoas. Se ponderarmos que o tempo estava cinzento e que a exposição já está neste local há alguns meses, tudo era ainda mais impressionante. À nossa frente, uma mãe perguntava às crianças que exposição queriam ver e uma delas prontamente respondeu que queria ver o Caravaggio. Fascinante. Por curiosidade, outra das exposições temporárias era a dos desenhos de Raphael e de alguns dos seus pupilos.


Mas o que mais nos impressionou foi quando chegámos ao local da exposição. A quantidade de público era tanta que tinha de se caminhar praticamente acotovelados, em fila e devagarinho. Isto para ver uma exposição de Pintura Barroca e Rococó o que não deixa de ser curioso. Outro aspecto que nos fascinou, novamente, é que as pessoas gostam de ver tudo e de ler todos os textos relacionados com a exposição em si, com os autores ou com os quadros.


A atenção ao pormenor na organização desta exposição era notória, seja na cor de cada parede, na maneira como a luz incidia nos quadros, na estrutura por temas ou nos pequenos textos complementares a muitas das obras. Há todo um cuidado que já não é a primeira vez que verificamos ou sentimos, seja nas exposições patentes neste espaço como em outras que visitámos noutros locais como a do Chagall que se encontrava na Galeria Nacional Húngara.


Apesar da presença de várias obras impressionantes, as do pintor Caravaggio e de outras inspiradas pelo seu estilo saltavam à vista pelo uso da cor, da luz (tão maravilhosa como perturbadora na sua perfeição), das expressões faciais e de toda a força do conjunto. Nesse sentido as do pintor Canaletto também se destacavam pela atenção ao pormenor por muito que a temática (cidade de Veneza) fosse diferente. A dada altura mais parecia que estávamos na presença de fotografias tal a perfeição. Pensar que muitos destes quadros têm mais de 300 ou 400 anos tornava tudo ainda mais esmagador.

Canaletto - Piazza San Marco, Venice, c. 1730–1735

Mesmo assim, há que dizer que em Portugal também vimos algumas exposições recentes e contemporâneas que nos surpreenderam pela positiva, como a dos Gémeos e a de Vik Muniz, ambas no CCB, em Lisboa, ou a de Paula Rego com Adriana Molder na Casa das Histórias Paula Rego, em Cascais, de José D'Almeida na loja Storytailors em Lisboa, ou a de Sérgio Ventura na Biblioteca Municipal de Sintra.

Uma coisa é certa, seja em que área for, absorvemos muita coisa e temos fome de saber como já deve ter dado para perceber ao longo dos anos, assim como divulgamos quando o resultado nos deixa com um sorriso (aqui ou no facebook), ao contrário de muito boa gente que não mete os pés em lado nenhum ou que pouco ou nada vê além do seu próprio umbigo apesar de gostar de mandar coisas para o ar. E isso, é uma atitude que urge ser mudada sob pena de contribuirmos para o adormecimento colectivo. O afastamento da Cultura e da Arte das pessoas, como bem atesta muita da atitude da Arte Contemporânea centrada em círculos de vaidades ou em interesses económicos, é outra.