Franz Fiedler: Pedaços de sensualidade


Nascido no Século XIX, mais concretamente em 1885 na República Checa, Franz Fiedler é um fotógrafo que continua a ser algo desconhecido do grande público. A destruição do seu estúdio e, consequentemente, de grande parte do respectivo espólio em Fevereiro de 1945, perto do final da Segunda Guerra Mundial, também não ajudou.

As suas fotografias têm um cunho pessoal muito próprio, em que tanto nos encanta o facto de o resultado se assemelhar inúmeras vezes a uma pintura, como toda a aura cinematográfica que emana do que temos à nossa frente. Há todo um cuidado nas poses e momentos captados, algo que nos encanta de uma maneira tal que é de todo impossível descrever por palavras. A beleza da maior parte das suas fotografias, intemporal, alia-se à criatividade de muitas das ideias, pequenos pedaços de sensualidade registados com uma certa subtileza que chega a ser poética.


Uma das suas séries mais populares, Narre Tod mein Spielgesell, mostra-nos uma mulher nua a interagir com um esqueleto humano em várias posições. Toda a ideia é tão peculiar como polémica, mas o resultado final tem tanto de dramático e teatral como de familiar. É fácil imaginar os momentos menos bons entre um casal, quando estes discutem por exemplo, ou os momentos mais fervorosos ou carinhosos, olhando para esta série de fotografias.


A naturalidade das expressões contrasta de maneira caricata com a aura teatral que várias das suas fotografias nos transmitem.
A figura feminina, tal como acontece com outros artistas atraídos por esse motivo, é central a muita da inspiração nas suas obras. O tratamento dado tem tanto de inocente como de uma certa lascívia escondida, um fascínio pelo corpo feminino que nunca é vulgar. A naturalidade das expressões contrasta de maneira caricata com a aura teatral que várias das suas fotografias nos transmitem. É uma atmosfera que cativa, que nos transporta com ela.



Outros trabalhos curiosos são os que ilustram momentos onde podemos ver a interacção num estúdio entre pintores e modelos. Mais uma vez é nas poses, no enquadramento e, obviamente, no tratamento das imagens, que reside muito do ambiente cativante. A calma que transparece nas faces, a introspecção associada à criação de uma obra, a cumplicidade entre artista e modelo, é como se tivéssemos uma rara oportunidade de espreitar para dentro de um mundo secreto.


O pouco que conseguimos encontrar sobre este fotógrafo, falecido em 1956, só ajuda a que persista uma certa sensação de mistério em seu redor e uma tristeza ao pensarmos nas possibilidades do que foi destruído. Nem hoje, numa altura em que a internet exibe a sua presença massificada com uma overdose de informação e imagens disponíveis num clique, é possível encontrar muitos trabalhos ou grande coisa sobre Franz Fiedler. Quem sabe por isso, ou por sentir uma magia inexplicável sempre que tenho o privilégio de olhar para imagens como estas, tenha decidido escrever este pequeno artigo no meio de tantos artistas que me inspiram.