Josephine Sacabo: Poesia e sonho em imagens


Josephine Sacabo nasceu em 1944 e é uma fotógrafa americana com uma relação muito próxima com a poesia. O seu livro The Duino Elegies, maravilhoso por sinal, contém poemas de Rainer Maria Rilke e noutros contextos podemos encontrar a influência de outros escritores no seu percurso artístico como por exemplo Charles Baudelaire, Vicente Huidobro, Stéphane Mallarmé, Juan Rulfo, Clarice Lispector ou Sor Juana Inés de la Cruz.


A sua vida, dividida actualmente entre a cidade de Nova Orleães e o México, tem um peso próprio na atmosfera das suas fotografias, que evoluíram da fase inicial mais ligada à estética do fotojornalismo para um ambiente entre o surreal e o onírico.


Em todas as suas séries fotográficas sente-se essa ligação dos sonhos com as palavras, uma manifestação visual em que se exploram os limites do meio. O resultado é intemporal, moderno e antigo ao mesmo tempo, com técnicas que remontam ao século XIX. A sua última série, Salutations, esteve exposta até ao dia 5 de Abril deste ano no Museu de Arte de Nova Orleães e usou um processo de colódio molhado em placas de metal e colagens para transformar os negativos em objectos artísticos de uma sensibilidade muito sua.


As imagens tornam-se versos vivos, espelhos de estados de alma, somos transportados para mundos misteriosos de sublimação. Perdemos a conta às fotografias que nos inspiram, que falam para nós. A presença do corpo tem um lugar especial no nosso coração, mas as paisagens a pender para o desolador e para campos habitados por fantasmas também nos conquistam.


Com uma carreira que ultrapassa três décadas, Josephine Sacabo já expôs em mais de 40 galerias e museus nos Estados Unidos, Europa e México, recebeu inúmeros prémios e os seus trabalhos são parte integrante de colecções permanentes de instituições como a Biblioteca Nacional de Paris, em França, e do Museu Metropolitano de Arte em Nova Iorque, nos Estados Unidos.
As imagens tornam-se versos vivos, espelhos de estados de alma, somos transportados para mundos misteriosos de sublimação.

Várias das suas fotografias aproximam-se de um resultado que se assemelha à pintura, em que não será alheio o percurso gradual da artista para um campo que ela apelidou de fotogravura, de uma fuga aos cânones documentais. A realidade aqui é criada por nós consoante o que sentimos e vemos nestes buracos negros de belo.


O jogo de sombras assume uma importância fulcral, assim como os títulos. Nem sempre é possível descortinar o que estamos a ver nos primeiros instantes e, consoante o momento, as leituras que conseguimos fazer têm uma tendência de se expandirem para o infinito. Naturezas mortas, paisagens, nomes que remetem para livros, mulheres por detrás de múltiplas exposições. Absorver tudo requer tempo, mas em várias das suas fotografias o impacto é imediato e somos desde logo arrebatados pelo que temos à nossa frente. A poesia torna-se visual.


Imagens introspectivas, de silêncios obrigatórios. Estar vivo é experienciar, experimentar, sentir e isso raramente acontece de forma linear. A luz e a escuridão estão ligadas de forma íntima, há que devorar toda a energia para a expelir até à transcendência.


Descoberta pessoal recente, por mais incrível que pareça, Josephine Sacabo é mais um caso que nos faz questionar os limites da fotografia e do tanto que ainda pode existir por desvendar neste mundo repleto de pessoas de talento. Uma visita ao site oficial, cuja ligação podem encontrar no final deste artigo, é recomendada para quem tiver interesse em descobrir um pouco mais.


Site oficial: http://josephinesacabo.com/