Pertença
"...poder andar descalça no teu corpo
e pisar a terra dos teus beijos
E depois rasgar-te o ventre
e introduzir-me inteira."
Manuela Amaral, Esta Coisa Quase-Vida
O comboio leva-me até à estação do Rossio, em Lisboa. Ali bem perto, a antiga loja Valentim de Carvalho era paragem obrigatória. Perdia-me na secção de livros no primeiro andar, que por sua vez combatia com a cave (piso onde estavam os discos de cariz mais alternativo) pela minha atenção. Não faço ideia das horas que lá passei, dos autores e artistas que descobri, do número de neurónios que se acendiam como faíscas ao passar aquela porta. Era uma experiência íntima.
Este livro de poesia de Manuela Amaral, com prefácio de Urbano Tavares Rodrigues, foi editado pela Fora do Texto em 1993. O impulso de torná-lo meu aconteceu com as primeiras folhas, com o cheiro familiar do papel a comunicar com os dedos e com os versos que falavam com os olhos.
A maioria dos poemas são curtos, mas repletos de frases e palavras que ficam connosco. Há uma força latente na escrita, nestas confissões que desaparecem num ápice. Ora mais despidos, ora intrínsecos a uma ligação corporal rara entre seres. A presença do corpo é em si uma constante.
Ode à tristeza (excerto)
“leve
impensada
informe
e num fluir de aragem
ser transformada em ar
Pedaço que respiras.
E nos meus dedos mansos
- veludos que pisaram
teu corpo em movimento –
vou amarrar o tempo
as letras do teu nome
E depois morrer.
Eu canto esta alegria
de saber-te.”
Manuela Amaral, Esta Coisa Quase-Vida
Desilusão, solidão, um cansaço do amor que de tão intenso corrói quando se torna ausente. Por vezes a carga emocional é de uma transparência quase mortífera. A autora exibe a sua nudez uma e outra vez, não se coíbe de mostrar tudo, o bom e o mau, a vivência nos extremos. E ficamos desarmados com poemas a pesar-nos nos braços.
Eu (origem)
"Não digo donde venho
ou quem eu sou
Todo o pássaro que voou
não explica a sua origem."
Manuela Amaral, Esta Coisa Quase-Vida
"...poder andar descalça no teu corpo
e pisar a terra dos teus beijos
E depois rasgar-te o ventre
e introduzir-me inteira."
Manuela Amaral, Esta Coisa Quase-Vida
O comboio leva-me até à estação do Rossio, em Lisboa. Ali bem perto, a antiga loja Valentim de Carvalho era paragem obrigatória. Perdia-me na secção de livros no primeiro andar, que por sua vez combatia com a cave (piso onde estavam os discos de cariz mais alternativo) pela minha atenção. Não faço ideia das horas que lá passei, dos autores e artistas que descobri, do número de neurónios que se acendiam como faíscas ao passar aquela porta. Era uma experiência íntima.
Este livro de poesia de Manuela Amaral, com prefácio de Urbano Tavares Rodrigues, foi editado pela Fora do Texto em 1993. O impulso de torná-lo meu aconteceu com as primeiras folhas, com o cheiro familiar do papel a comunicar com os dedos e com os versos que falavam com os olhos.
A maioria dos poemas são curtos, mas repletos de frases e palavras que ficam connosco. Há uma força latente na escrita, nestas confissões que desaparecem num ápice. Ora mais despidos, ora intrínsecos a uma ligação corporal rara entre seres. A presença do corpo é em si uma constante.
Ode à tristeza (excerto)
“leve
impensada
informe
e num fluir de aragem
ser transformada em ar
Pedaço que respiras.
E nos meus dedos mansos
- veludos que pisaram
teu corpo em movimento –
vou amarrar o tempo
as letras do teu nome
E depois morrer.
Eu canto esta alegria
de saber-te.”
Manuela Amaral, Esta Coisa Quase-Vida
Uma frase, um verso, um poema, todos os dias somos nós aqui.Este conjunto de textos, dividido em cinco capítulos (Três Poemas Que Sou, As Palavras, Interregno, O Tempo e Esta Coisa Quase-Vida), pode já ter mais de vinte anos, mas o reencontro ocorre sempre com um sorriso e com algumas memórias dos recitais em que participava ou das minhas próprias incursões com poemas em revistas literárias e antologias. São tempos que ficaram, tal como este livro. Uma frase, um verso, um poema, todos os dias somos nós aqui.
Desilusão, solidão, um cansaço do amor que de tão intenso corrói quando se torna ausente. Por vezes a carga emocional é de uma transparência quase mortífera. A autora exibe a sua nudez uma e outra vez, não se coíbe de mostrar tudo, o bom e o mau, a vivência nos extremos. E ficamos desarmados com poemas a pesar-nos nos braços.
Eu (origem)
"Não digo donde venho
ou quem eu sou
Todo o pássaro que voou
não explica a sua origem."
Manuela Amaral, Esta Coisa Quase-Vida
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