Arrastam-se os gestos por sucumbia marítima, vales despidos, os peões são pedaços de corpo do tabuleiro em que se movem dia após dia. Esquecer não se faz por vontade, é um agora que se conquista no teclar de um piano, no som do vento nas janelas, no fundir de um fusível, na recuperação de ritmos quebrados. Prolifera a nostalgia de viver para apagar o existir nas saudades de um antes e nos movimentos de um outrora. Não mudes dizes-me, na réstia de artifícios para justificar a solidão das pernas.
As feridas em aberto, expostas em frenesim encalacrado, cortam-te a respiração e não subsistem hospitais suficientes para acolher tamanha quantidade de sangue. Palavras e conversas vãs, o silêncio das ambulâncias, de um branco opaco enrugado nos dedos e na latência das veias.
A água, oscilante por natureza, decalca formas nas vitrines de esconderijos na cidade. Sonhamos com elas quando dialogamos ao telefone, em ficar encostados nas lojas, nas igrejas, no contacto frio dos vidros com a chuva a molhar-nos os poros, na cabeça a decair em forma de punção.
Penso em tudo isto quando te dou de comer à boca. O talher, firme, produz ornamentos quando se encontra com os teus dentes amarelados. A comichão, nesses momentos, passa das sobrancelhas para os antebraços, quebrados em inércia.
Até à última gota, todo o pus.
As feridas em aberto, expostas em frenesim encalacrado, cortam-te a respiração e não subsistem hospitais suficientes para acolher tamanha quantidade de sangue. Palavras e conversas vãs, o silêncio das ambulâncias, de um branco opaco enrugado nos dedos e na latência das veias.
A água, oscilante por natureza, decalca formas nas vitrines de esconderijos na cidade. Sonhamos com elas quando dialogamos ao telefone, em ficar encostados nas lojas, nas igrejas, no contacto frio dos vidros com a chuva a molhar-nos os poros, na cabeça a decair em forma de punção.
Penso em tudo isto quando te dou de comer à boca. O talher, firme, produz ornamentos quando se encontra com os teus dentes amarelados. A comichão, nesses momentos, passa das sobrancelhas para os antebraços, quebrados em inércia.
Até à última gota, todo o pus.
Nuno Almeida
Contos do Tirano
2015
O nevoeiro esclarecido
Guardar [MP3, ZIP] Duração [12:20] Data: 22-02-2015
Playlist:
01. Televise - If I Told You (port-royal remix)
02. Jayne Amara Ross, Frédéric D. Oberland, Gaspar Claus - The Crossing I, Winter Stone and Mortar
03. The Frozen Vaults - Cloak of Lingering Fog
04. Mind.Divided - Tales Of Winter
Tem formação em multimédia, fotografia e jornalismo. Mas mais do que isso, tem mundos na cabeça e caleidoscópios de actividade criativa.
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