Budapeste: A Colecção Imre Varga


Dia Internacional da Mulher e o sol a espreitar sem timidez. Foi com esta combinação perfeita que decidimos visitar a galeria que alberga diversos trabalhos do escultor húngaro Imre Varga, uma vontade há muito adiada por vários motivos desde que chegámos a Budapeste. De nome Colecção Imre Varga (Varga Imre Gyűjtemény) e situada no Distrito III no nº7 da rua Laktanya, na zona de Óbuda (parte mais antiga de Budapeste e a cerca de 30m-45m do centro da cidade apanhando um autocarro), esta casa permite-nos ver não só inúmeros trabalhos de escultura como também desenhos, pinturas, moedas e fotografias. Um detalhe interessante é que não só o conteúdo costuma mudar com o tempo, como até as estátuas das mulheres de guarda-chuva que se encontram na rua.



Um dos trabalhos mais populares deste escultor situa-se um pouco antes de chegarmos ao referido espaço. Rodeadas de flores, as maravilhosas estátuas em bronze de quatro mulheres com guarda-chuvas, inspiradas nas prostitutas que frequentam o Distrito Vermelho de Paris, atraem-nos o olhar. Há qualquer coisa de misterioso, bonito e intrigante, nas obras deste artista. Ficamos admirados com as formas, com os traços, com os materiais, com as expressões faciais, com a humanidade das figuras. Mas existe também algo de negro em várias delas. Por exemplo estas estátuas, chamadas 'Those waiting' (Várakozók), representam a condição pouco dignificante das mulheres que esperam na rua, à chuva, pelos potenciais clientes.


Actualmente com 90 anos de idade, Imre Varga é não só um dos artistas húngaros vivos mais importantes, como também um dos mais singulares. Os seus trabalhos presentes em vários locais da Hungria e em outros países demonstram isso mesmo, assim como o que podem encontrar nesta pequena galeria e museu com o seu nome. Lá dentro têm algumas salas que mostram a versatilidade e originalidade deste artista. Pinturas, que até então desconhecíamos e que foram uma excelente surpresa, estudos, desenhos para trabalhos futuros, mas são obviamente as esculturas que nos chamam grande parte da atenção. Algumas das mais queridas e impressionantes são as pequenas estatuetas que dão vontade de levar debaixo do braço. Parte são réplicas de outros trabalhos ou de pormenores presentes em obras de maior dimensão, outras são originais.


Não demorou muito tempo para que chegássemos à conclusão que se encontra aqui uma das melhores e mais bonitas exposições de escultura que tivemos o prazer de ver até ao momento. No interior podem até encontrar um pequeno jardim com algumas réplicas de estátuas em tamanho real de escritores e artistas, por sinal uma das partes que mais gostámos, com banquinhos que permitem a melhor das introspecções. A título de curiosidade, quando lá chegámos um gato descansava de forma amena junto ao livro de uma estátua.

As obras tanto falam connosco pelo seu realismo e carga poética em alguns casos, como noutros a comunicação é atingida pelo efeito visual surrealista, inesperado e original de algumas esculturas. Tanto há uma necessidade de silêncio ao contemplar o que vemos, como uma vontade de exprimir admiração. Afastada dos roteiros turísticos habituais (éramos os únicos visitantes na altura) e localizada de forma discreta (nem se dá por ela) junto a uma pequena praça muito agradável, esta casa é uma visita obrigatória para quem gosta de paragens no tempo, de apreciar a imaginação, a arte e o belo que nos consegue caracterizar como seres humanos. Um momento único.