É como se fosse um prelúdio para o que iremos carregar no ventre. O plural, singular na metáfora de sermos um, assinala o desejo de agirmos correctamente. Estômago apertado, somos partículas de intenso e os dias perdem-se nas migrações embebidas em clorofórmio, nos olhos tombados de inconsciente, nas crateras que deixamos no chão da cozinha, na mesa da sala, nas esquinas dos quartos, na escuridão das escadas do prédio, nos impulsos de lava que nos deixam hirtos.
Mãos cravadas na face, sons de arrepios, cabeça gira e gira, fio do telefone enrolado à volta do pescoço, cólicas, os corpos pedem para se levantar, evitam-se azias, a pele apresenta tonalidades estranhas, má circulação, temos em nós uma raiva que perscruta o silêncio. Por vezes, vamos até à varanda e arremessamos um livro velho para a rua. As palavras, quando soltas, ganham asas, pintam distâncias nos lábios, e o vizinho da frente, alérgico a pijamas, aparece nu todos os dias à janela.
Não vos percebo, capricho meu bem sei, há que caiar a percepção do próximo e esmifrar o eu.
Soltos, em forma de pingos que saltam pelas pedras dos passeios, brincamos aos adultos e ao faz de conta, imitamos as estrelas de cinema dos filmes antigos a preto e branco, desenhamos cigarrilhas com as sombras. Todos podemos ser artistas e maiores que o mundo. Não chega, queremos uma revolução digna do seu nome e poeira levantada numa rua estreita onde não circulem automóveis, um piano a tocar em todos os bares da cidade. Sejamos frágeis, únicos e um todo, tudo o que somos, ali, num pequeno momento de contenção, dentro de nós, com estocadas firmes, de respirares suaves ao ouvido e mistérios de perfumes que toldam os sentidos.
Nuno Almeida
Histórias de raparigas com casacos de cabedal e braços cobertos com pulseiras
2011
Mãos cravadas na face, sons de arrepios, cabeça gira e gira, fio do telefone enrolado à volta do pescoço, cólicas, os corpos pedem para se levantar, evitam-se azias, a pele apresenta tonalidades estranhas, má circulação, temos em nós uma raiva que perscruta o silêncio. Por vezes, vamos até à varanda e arremessamos um livro velho para a rua. As palavras, quando soltas, ganham asas, pintam distâncias nos lábios, e o vizinho da frente, alérgico a pijamas, aparece nu todos os dias à janela.
Não vos percebo, capricho meu bem sei, há que caiar a percepção do próximo e esmifrar o eu.
Soltos, em forma de pingos que saltam pelas pedras dos passeios, brincamos aos adultos e ao faz de conta, imitamos as estrelas de cinema dos filmes antigos a preto e branco, desenhamos cigarrilhas com as sombras. Todos podemos ser artistas e maiores que o mundo. Não chega, queremos uma revolução digna do seu nome e poeira levantada numa rua estreita onde não circulem automóveis, um piano a tocar em todos os bares da cidade. Sejamos frágeis, únicos e um todo, tudo o que somos, ali, num pequeno momento de contenção, dentro de nós, com estocadas firmes, de respirares suaves ao ouvido e mistérios de perfumes que toldam os sentidos.
Nuno Almeida
Histórias de raparigas com casacos de cabedal e braços cobertos com pulseiras
2011
O intenso dos perfumes ignorados
Guardar [MP3, ZIP] Duração [01h03m05s] Data: 19-10-2011
Playlist:
01. Farewell Poetry - As True As Troilus
02. Chelsea Wolfe - Pale on Pale
03. Red Painted Red - Wondering How They Fly
04. Esben And The Witch - Hexagons II (The Flight)
05. The Seven Mile Journey - The Alter Ego Autopsies
06. God Is An Astronaut - Fragile
07. Tilbury On Cloves - All I Am
2 comentar
Click here for comentarFico pelas palavras pois neste equipamento não consigo ... ainda( certamente não seicomo) ... fazer o download do sete ouvir.
ReplyFica na lista para quando voltar
Olá e espero que as coisas por aí estejam a correr bem entretanto. :)
ReplyGosto bastante deste, haja motivação, inspiração e vontade de se continuar :)
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