Se dissesse como tudo era, se soubesse até, o mundo teria de se dividir em duas épocas diferentes, a pré e a pós. O meu nome é Inês e não sei o que me vai na cabeça. Posso até brincar aos números, dizer-vos que a lógica difere da razão dos átomos, que as páginas onde as palavras se emaranham são de todos nós ou que o pincel com que pinto o corpo é áspero, mas nada disso confere.
As ruas parecem-me labirintos, perco-me nelas quando tenho vontade, tomo notas, tiro fotografias, registo momentos, quando posso dispo até as roupas e encosto-me às paredes. Umas vezes sozinha, outras acompanhada, não importa muito, gosto do frio a arranhar-me os seios, as coxas, as mãos e a verdade dos princípios. Deambular é acarinhar o manifesto dos axiomas.
Confundem-me os minutos, o certo torna-se incerto, demasiado rápido, com uma sensação maior que espreita a cada instante. Parto todos os dias para chegar a lugar algum, encontro destinos no interior dos vestidos com temáticas simples que acumulo no armário. Alguns colam-se às extremidades da madeira, carcomidos pela idade, gastos no subir e descer das pernas sem rasgo de paixão. Outros exibem os seus buracos com orgulho, quando a ânsia era tanta que já não era possível guardar a resposta à questão do que se escondia no mistério quente da vida.
Há um tudo de opressivo no nada desta claustrofobia de mim, uma vontade de descoberta despoletado pela incerteza de me saber pessoa. Quando leio um livro imagino-me um sapinho daqueles que se transforma em príncipe por milagre, por um gesto que faça sentido, pelo cheiro a mofo oriundo daquelas folhas amareladas. Sou tão antiga como o teu olhar.
Nuno Almeida
Contos do Tirano
2011
As ruas parecem-me labirintos, perco-me nelas quando tenho vontade, tomo notas, tiro fotografias, registo momentos, quando posso dispo até as roupas e encosto-me às paredes. Umas vezes sozinha, outras acompanhada, não importa muito, gosto do frio a arranhar-me os seios, as coxas, as mãos e a verdade dos princípios. Deambular é acarinhar o manifesto dos axiomas.
Confundem-me os minutos, o certo torna-se incerto, demasiado rápido, com uma sensação maior que espreita a cada instante. Parto todos os dias para chegar a lugar algum, encontro destinos no interior dos vestidos com temáticas simples que acumulo no armário. Alguns colam-se às extremidades da madeira, carcomidos pela idade, gastos no subir e descer das pernas sem rasgo de paixão. Outros exibem os seus buracos com orgulho, quando a ânsia era tanta que já não era possível guardar a resposta à questão do que se escondia no mistério quente da vida.
Há um tudo de opressivo no nada desta claustrofobia de mim, uma vontade de descoberta despoletado pela incerteza de me saber pessoa. Quando leio um livro imagino-me um sapinho daqueles que se transforma em príncipe por milagre, por um gesto que faça sentido, pelo cheiro a mofo oriundo daquelas folhas amareladas. Sou tão antiga como o teu olhar.
Nuno Almeida
Contos do Tirano
2011
Axioma do Amanhã
Guardar [MP3, ZIP] Duração [70:35] Data: 02-10-2011
Playlist:
01. The Young Gods - Lucidogen (braindance mix)
02. The Young Gods - December
03. Aerosol - Airborne
04. Port-Royal - Spider Toupet
05. Stendeck - Thieves Of Watercolour Memories
06. Numb - Illumination Rounds
07. Kammerflimmer Kollektief - Soft Machine
08. Laika - Girl Without Hands
09. Ital Tek - Still Shores
10. Static - Corazon, Cristal
11. Front Line Assembly - Silent Ceremony
12. Home Video - Business Transaction
13. The Seven Mile Journey - Identity Journals (anonymous)
14. Natalie Beridze/TBA - Blue Shadow
2 comentar
Click here for comentaros nosso fantasmas soltam-se e esvoaçam-se nas notas musicais ...
Replypor mais lógica parece a vida ainda bem que nela nem sempre seja 2+2=4
Sim, ainda bem que por vezes 2+2=5, tal como diriam os nossos amigos Radiohead, ou como muito do que se passa neste blogue. :D
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