10h30 da manhã, barulho dos comboios de carga a ecoar ao fundo do muro. Um corpo encontra-se a boiar na piscina de uma casa coberta com azulejos pretos e dourados. Artur sabia nadar, mas naquele dia decidiu desligar-se da vida.
Na relva, os brinquedos estavam dispostos em forma de seta, em direcção ao abismo. É como se os círculos de apoio à rotina tivessem decidido guiar Artur até à saída do labirinto que o estrangulava.
Os pais, sempre protectores, sonhavam com uma carreira de prestígio para o filho. Magistrado, médico, político quem sabe, ou então uma profissão assente na realidade. Os devaneios artísticos de Artur não eram vistos com bons modos, originavam até discussões acesas, de gargantas a pulsar até à exaustão da nulidade. Teatro, escrita, fotografia, música, tudo isso era visto como delírios inconsequentes típicos da delinquência e de quem não quer fazer nenhum.
Artur raramente tinha dinheiro consigo, não podia estabelecer relações com ninguém, tudo era controlado, não fosse o mundo decidir levá-lo com ele. Metido em casa, sem hipóteses de sair, fazia da sua redoma o seu palco para a criatividade. Encontrava maneiras inéditas de se masturbar, prendia molas nos mamilos, sodomizava-se com os cantos da cama.
Sempre fizemos tudo em prol dele, só queríamos o melhor, as palavras progenitoras, continuamente na rejeição de culpa e nos desvarios da ilusão. A amputação social de um filho é ironia pura.
Nuno Almeida
Contos do Tirano
2011
Na relva, os brinquedos estavam dispostos em forma de seta, em direcção ao abismo. É como se os círculos de apoio à rotina tivessem decidido guiar Artur até à saída do labirinto que o estrangulava.
Os pais, sempre protectores, sonhavam com uma carreira de prestígio para o filho. Magistrado, médico, político quem sabe, ou então uma profissão assente na realidade. Os devaneios artísticos de Artur não eram vistos com bons modos, originavam até discussões acesas, de gargantas a pulsar até à exaustão da nulidade. Teatro, escrita, fotografia, música, tudo isso era visto como delírios inconsequentes típicos da delinquência e de quem não quer fazer nenhum.
Artur raramente tinha dinheiro consigo, não podia estabelecer relações com ninguém, tudo era controlado, não fosse o mundo decidir levá-lo com ele. Metido em casa, sem hipóteses de sair, fazia da sua redoma o seu palco para a criatividade. Encontrava maneiras inéditas de se masturbar, prendia molas nos mamilos, sodomizava-se com os cantos da cama.
Sempre fizemos tudo em prol dele, só queríamos o melhor, as palavras progenitoras, continuamente na rejeição de culpa e nos desvarios da ilusão. A amputação social de um filho é ironia pura.
Nuno Almeida
Contos do Tirano
2011
Artur
Guardar [MP3, ZIP] Duração [55:55] Data: 20-07-2011
Playlist:
01. French Teen Idol - El Siete Es La Luz
02. Blindfold - Wait
03. Piano Magic - A Return To The Sea
04. Dark Captain Light Captain - Circles
05. Jeniferever - Sparrow Hills
06. Pan Spherics - Going Up, Going Down
07. Swans - She Lives
08. PNDC & housework - The Fix
09. Six By Seven - There's A Ghost
10. Woven Hand - Truly Golden
11. Madrugada - Only When You're gone
2 comentar
Click here for comentareducar é o maior desafio de um ser humano ... acho que hoje mais do que nunca .
Replytodos os dias nos superamos para acompanhar o mundo ... aquele mundo onde os filhos estão a crescer
sim ... é importante reflectir
O problema pode surgir quando nos esquecemos de tentar conhecer os nossos filhos.
ReplyEducar um filho é uma grande responsabilidade e existe o risco de o alienarmos no processo se o controlarmos demasiado ou se o tentarmos moldar a uma imagem sem querermos perceber quem ele(a) é como pessoa.
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