"Espera um pouco, deixa-me tirar o plástico para ti, o rebuçado de cor verde a pedir-te o palato, adocicamos os beijos nestes truques e malícias, as rotinas tornadas nossas, manipuladas nas rodas de um tempo que teima em não se deixar enganar. Peço-te desculpa se os sapatos, retirados delicadamente com as minhas mãos, me tornam mais animal do que o costume, se os suspensórios que tens presos na saia me pedem que te bata com eles e se a minha vontade é a de quem não se importa se me arrancas a pele quando estás em cima de mim, a sentir as minhas veias, dentro de ti, a querer tocar no teu estômago.
Tens um dos olhos, vermelho, a brincar com a vida, a testa, atirada em conjunto com a minha contra a cabeceira da cama, diz-nos pouco do que somos, menos ainda de como trememos incontroladamente horas antes, lágrimas.
As respirações pesadas, os peitos, encostados, a visão a fugir-nos, temos em nós a morte dos dias."
Tens um dos olhos, vermelho, a brincar com a vida, a testa, atirada em conjunto com a minha contra a cabeceira da cama, diz-nos pouco do que somos, menos ainda de como trememos incontroladamente horas antes, lágrimas.
As respirações pesadas, os peitos, encostados, a visão a fugir-nos, temos em nós a morte dos dias."
Nuno Almeida, Os Diários de A. & P., 2010
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