IX

"Levita os braços como só tu sabes. Não, como só nós sabemos, a uns centímetros de distância um do outro, ou a alguns metros, em comportamentos de bailados tresloucados, o chão ali tão longe, as danças lançadas a nosso pedido, temos a ousadia de não querermos saber, os olhos postos em nós, podemos arrancar a roupa quando quisermos, ninguém se importa. Sei que não me vês e eu próprio também não, cegos pela espiral das músicas que nos transportam para lugares sem relação alguma onde estamos fisicamente nesse momento, a tua mão a alargar-me o cinto, o sexo a incomodar-me nas pernas, o teu pescoço a encolher nos meus dedos, temos vida para arrancar e desmaios para perseguir."

Nuno Almeida, Os Diários de A. & P., 2010