A Música

"Sempre gostei de como tratavas partes do meu corpo como uma entidade autónoma separada do quadro geral, algumas, até com a ousadia de falares com elas e passares os dentes pelas estradas de nervos, ora com delicadeza, ora com a fúria de quem tem algo a dizer, um manifesto de amor.

Percebes tão bem como eu este sentimento, quando os membros te convidam a mexer, as pequeninas notas que nos transformam num martelo pneumático de um momento para o outro, os pormenores que só parecem encontrar o seu sentido quando tudo começa ou quando tudo acaba.

Esqueçamos isto tudo, que a música pede-nos silêncio agora."

Nuno Almeida, Ecos de Gravidade, 2010