"Tenho saudades de brincar com as sombras, naqueles cantos escuros que nos convidam a jogar às escondidas debaixo dos tapetes das nossas casas. Nessas alturas, fingimos que os cordões dos sapatos são novelos de lã e rebolamos pelo chão, circunferências nuas, apogeus de sentir inundados de transparência.
Despidos de cinzentos, andamos entre a escuridão e a luz, sem meio-termo, recheados de pequenas coisas, pormenores, de tudo o que é importante porque é assim que deve ser, porque tudo importa, das palavras aos gestos, dos sons aos momentos, são dilúvios repentinos, adocicados, com sabor a nós, libertos pelas horas tardias que nos revelam por meros instantes, sem pedir licença, entre as pequenas borboletas no estômago e o choque das coincidências, do hábito familiar.
As mãos, enrugadas pela idade, perderam há muito a suavidade das manhãs e pedem agora aqueles apertos quentes, de luvas postas, quando o frio e a solidão aperta e só queremos sentir uns dedos por cima dos nossos, encostados no calor do significado da nossa existência e com o olhar perdido nas memórias de quando os dias pareciam curtos demais para serem desfrutados em pleno.
Vem, anda daí, fiz café quente.
Já chega de explicações e procuras de insatisfação.
Ainda nos falta percorrer o resto do caminho, até ao infinito."
Nuno Almeida, Retratos, 2009
'The Little Things'
Despidos de cinzentos, andamos entre a escuridão e a luz, sem meio-termo, recheados de pequenas coisas, pormenores, de tudo o que é importante porque é assim que deve ser, porque tudo importa, das palavras aos gestos, dos sons aos momentos, são dilúvios repentinos, adocicados, com sabor a nós, libertos pelas horas tardias que nos revelam por meros instantes, sem pedir licença, entre as pequenas borboletas no estômago e o choque das coincidências, do hábito familiar.
As mãos, enrugadas pela idade, perderam há muito a suavidade das manhãs e pedem agora aqueles apertos quentes, de luvas postas, quando o frio e a solidão aperta e só queremos sentir uns dedos por cima dos nossos, encostados no calor do significado da nossa existência e com o olhar perdido nas memórias de quando os dias pareciam curtos demais para serem desfrutados em pleno.
Vem, anda daí, fiz café quente.
Já chega de explicações e procuras de insatisfação.
Ainda nos falta percorrer o resto do caminho, até ao infinito."
Nuno Almeida, Retratos, 2009
'The Little Things'
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Click here for comentarlaços que nunca se esquecem, e um simples cheiro nos comove a memoria
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