"Deitada ao teu lado, vejo-te a deixar formas de anjo no rosto, assediado pelas almofadas, longe agora das trocas de cigarros, suspiros e olhares distantes, recuperando a respiração. Queria pegar numa navalha e matar-te já aqui, formar uma tela vermelha e guardar-te só para mim, manter-te à margem do nevoeiro que se encontra lá fora, à espera de nos devorar à mínima oportunidade.
Pergunto-me porque tinhas tu de aparecer e porque não consigo perceber-te, e perceber-nos, atirando-me para a confusão, ecos de ansiedade.
Quando abrires os olhos, dá-me uma data, diz-me a hora e o momento, dá-me validade, diz-me quando devo usar esta lâmina de vez e estarei lá, na necessidade de saber o que somos, ou o que fomos, despedaçando o presente ou passado, à procura da incerteza do futuro, do apoio dos teus braços, nem que seja para uma última dança, antes do silêncio que jorrará palavras em forma de lágrimas, num aperto de coração que nos levará para lá dos horizontes, fechados, com cadeados à porta.
Pensas demais, tenho saudades de quando me dizias que gostavas de ver como a luz do sol se reflectia nos meus vestidos, como a pele se iluminava e como toda eu dava cor a tudo à minha volta, um farol para o mundo, que guiou o teu barco para o meu porto seguro, sem deixar que este se desfizesse em mil pedacinhos de madeira porque estavas perdido e à deriva dizias. E agora, porque é que me deixas dançar sozinha?
Tecido branco, passos leves, dou forma aos movimentos e rodo, rodo e rodo, cabeça para trás, as luzes do tecto a acompanhar-me, encontrando-te por momentos. Vens? O palco está à nossa espera."
Nuno Almeida, Retratos, 2009
'I think about how I miss you'
Pergunto-me porque tinhas tu de aparecer e porque não consigo perceber-te, e perceber-nos, atirando-me para a confusão, ecos de ansiedade.
Quando abrires os olhos, dá-me uma data, diz-me a hora e o momento, dá-me validade, diz-me quando devo usar esta lâmina de vez e estarei lá, na necessidade de saber o que somos, ou o que fomos, despedaçando o presente ou passado, à procura da incerteza do futuro, do apoio dos teus braços, nem que seja para uma última dança, antes do silêncio que jorrará palavras em forma de lágrimas, num aperto de coração que nos levará para lá dos horizontes, fechados, com cadeados à porta.
Pensas demais, tenho saudades de quando me dizias que gostavas de ver como a luz do sol se reflectia nos meus vestidos, como a pele se iluminava e como toda eu dava cor a tudo à minha volta, um farol para o mundo, que guiou o teu barco para o meu porto seguro, sem deixar que este se desfizesse em mil pedacinhos de madeira porque estavas perdido e à deriva dizias. E agora, porque é que me deixas dançar sozinha?
Tecido branco, passos leves, dou forma aos movimentos e rodo, rodo e rodo, cabeça para trás, as luzes do tecto a acompanhar-me, encontrando-te por momentos. Vens? O palco está à nossa espera."
Nuno Almeida, Retratos, 2009
'I think about how I miss you'
Playlist:
01. French Teen Idol - I Want George Soros
02. I Love You But I've Chosen Darkness - The Ghost
03. The Twilight Sad - I Am Taking The Train Home
04. Danish Daycare - Doves
Tem formação em multimédia, fotografia e jornalismo. Mas mais do que isso, tem mundos na cabeça e caleidoscópios de actividade criativa.
2 comentar
Click here for comentarIntenso.
Reply['(...) and you always.. always..] **
bonito , um pouco dos momentos que nos rodeiam ...
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