"Um minuto de atenção, uma espreitadela, olhar para dentro, pedacinhos, esventrados, seguimos o caos, brincando às escondidas, figurações do belo, bonitos, somos um filme perdido.
As nossas vozes erguem-se lá do fundo e procuram que as escutemos, até que atinjam os nossos lábios, formando palavras, dando significância aos momentos, às alturas em que somos líquido, dilúvios de impossíveis, ilusão adocicada, miragem, somos tudo isso e muito mais, tanto e tanto, somos maiores que o mundo, mas, curiosamente, cabemos numa caixa, a nossa.
Paredes nuas, descreves um arco com os teus braços, pernas roçando-se nas minhas, dançamos no respirar, sem máscaras, titilar das línguas, sabemos a mercúrio, àqueles pores-do-sol em que o céu fica vermelho de tanta morte, quando já não temos mais sangue para dar e a oferta é plena, equilíbrio insustentável.
Gritos, em cacos, escolhemos cair, despedaçados, vertigens irrequietas, fugir, alcançar o desespero quente, sem respeito pela sanidade. Quero beber-te, abre as pernas e dá-me vida.
Sopro latejante, inclinas a cabeça para trás, suspirando lentamente, movimentos em círculos, escrevo-te frases com os dedos, uma após outra, letra a letra, cada vez mais fundo, o conhecimento, desmaio iminente, puxas-me para dentro. Em mim, ofereces-me tudo, criando milagres.
Aguenta mais um pouco, a luz já vai embora e, até lá, agarra-te às minhas veias. Prometo que não irá demorar muito, a paz, do adormecer. É só mais um pouco, quando as borboletas passarem por ti, em sinal de aprovação, sem dares por isso, no calor dos meus braços."
Nuno Almeida, Retratos, 2009
'From Chaos to Peace'
As nossas vozes erguem-se lá do fundo e procuram que as escutemos, até que atinjam os nossos lábios, formando palavras, dando significância aos momentos, às alturas em que somos líquido, dilúvios de impossíveis, ilusão adocicada, miragem, somos tudo isso e muito mais, tanto e tanto, somos maiores que o mundo, mas, curiosamente, cabemos numa caixa, a nossa.
Paredes nuas, descreves um arco com os teus braços, pernas roçando-se nas minhas, dançamos no respirar, sem máscaras, titilar das línguas, sabemos a mercúrio, àqueles pores-do-sol em que o céu fica vermelho de tanta morte, quando já não temos mais sangue para dar e a oferta é plena, equilíbrio insustentável.
Gritos, em cacos, escolhemos cair, despedaçados, vertigens irrequietas, fugir, alcançar o desespero quente, sem respeito pela sanidade. Quero beber-te, abre as pernas e dá-me vida.
Sopro latejante, inclinas a cabeça para trás, suspirando lentamente, movimentos em círculos, escrevo-te frases com os dedos, uma após outra, letra a letra, cada vez mais fundo, o conhecimento, desmaio iminente, puxas-me para dentro. Em mim, ofereces-me tudo, criando milagres.
Aguenta mais um pouco, a luz já vai embora e, até lá, agarra-te às minhas veias. Prometo que não irá demorar muito, a paz, do adormecer. É só mais um pouco, quando as borboletas passarem por ti, em sinal de aprovação, sem dares por isso, no calor dos meus braços."
Nuno Almeida, Retratos, 2009
'From Chaos to Peace'
Playlist:
01. Tilbury On Cloves - Underground
02. PNDC & housework - Lost Message
03. Emerald Park - Obscured By Lies
04. Loney, Dear - Harsh Words
05. I Hate This Place - The Puzzler
Tem formação em multimédia, fotografia e jornalismo. Mas mais do que isso, tem mundos na cabeça e caleidoscópios de actividade criativa.
3 comentar
Click here for comentarMuito bonito.. :)
ReplyE que faixa é aquela aos 14 minutos?
Está gira.
E continuo a achar curiosa a segunda faixa porque lembra-me mesmo David Bowie e Anthony & Johnson.. :P
**
:)
ReplyDeve ser 'Loney, Dear', aos 14. :)
atrevido ... mas doce
Replyborboletas coloridas de voo translucido
;)
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