"Resignada, deitas-te do lado mais afastado da cama e reconheces que já conhecemos dias melhores, tentando procurar algum significado no branco da parede para onde olhas em silêncio.
Cabelo despenteado, músculos tensos, sentes o frio nas costas, do que se perdeu algures no caminho entre a partilha e o hábito, incomodando-te esta fragilidade de porcelana onde assentava a tua vida até este momento. Por instantes, gostavas que a nossa gravidade fosse zero e não esta ausência de comunicação, cerrando os olhos, enquanto abraças o lençol.
Ao teu lado, tens um estranho, no entanto, ainda se vislumbram alguns sorrisos pelo meio das memórias, mesmo não sendo suficiente, porque nunca é..., suficiente.
Devíamos ter-nos devorado quando tivemos oportunidade, não isto, aniquilados no vazio das essências postas a nu, despidas, sem identidade. O que eu não dava para que me tivesses engolido quando deixei os meus braços e pernas ao desvario.
Come-me agora, penso, numa réstia de esperança,
Não te queres atirar lá de cima comigo? Voarmos até deixarmos de sentir o nosso peso?
Vá lá...caminha comigo só mais um pouco, anula-me a vontade de ser ingénua.
Estou farta de pensar sozinha...
Quem sabe o dia de amanhã traga algo de novo, arrebatador, não isto.
Sei que estás aí, sai lá do espelho e encontra-me de uma vez."
Nuno Almeida, Retratos, 2009
Cabelo despenteado, músculos tensos, sentes o frio nas costas, do que se perdeu algures no caminho entre a partilha e o hábito, incomodando-te esta fragilidade de porcelana onde assentava a tua vida até este momento. Por instantes, gostavas que a nossa gravidade fosse zero e não esta ausência de comunicação, cerrando os olhos, enquanto abraças o lençol.
Ao teu lado, tens um estranho, no entanto, ainda se vislumbram alguns sorrisos pelo meio das memórias, mesmo não sendo suficiente, porque nunca é..., suficiente.
Devíamos ter-nos devorado quando tivemos oportunidade, não isto, aniquilados no vazio das essências postas a nu, despidas, sem identidade. O que eu não dava para que me tivesses engolido quando deixei os meus braços e pernas ao desvario.
Come-me agora, penso, numa réstia de esperança,
Não te queres atirar lá de cima comigo? Voarmos até deixarmos de sentir o nosso peso?
Vá lá...caminha comigo só mais um pouco, anula-me a vontade de ser ingénua.
Estou farta de pensar sozinha...
Quem sabe o dia de amanhã traga algo de novo, arrebatador, não isto.
Sei que estás aí, sai lá do espelho e encontra-me de uma vez."
Nuno Almeida, Retratos, 2009
4 comentar
Click here for comentaros cenários continuam soltos ... a vida é feita de pequenos espelhos , e cenas que montamos á nossa volta
Replysão eles , os cenários , que nos permitem valorizar o que vamos construindo ... e vale a pena ver, que amanhã haverá algo de novo
;)
Tão bonito, e por vezes familiar. (:
ReplySomos tão frágeis.
Obrigada por escreveres "despertares de sentimentos"
(por vezes, ausência de actos é fatalmente ensurdecedora)
Está muito bonito realmente. :)
Reply**
Obrigado a todas.:)
ReplyE sim, por muito frágeis que possamos ser, amanhã irá trazer sempre algo de novo. Acho...
Os cenários continuam muito soltos de facto, até me fazem doer a cabeça por vezes.
thx again. :)
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