
"Nesta floresta e emaranhado de pensamentos podemos dormir em cima das folhas mortas e contemplar as que ainda estão vivas, porque é isso que significa sermos livres. Ou pelo menos é isso que me segredam ao ouvido as vozes que escuto quando o silêncio é quebrado pelo deslizar dos corpos na ravina mais abaixo, aproveitando a suavidade do tapete natural que se esconde debaixo dos seus pés.
Não foram poucas as vezes que tropeçámos, e não foram poucas as vezes que olhei para nós a ponderar nos porquês de tal junção disfuncional, no caos da química da irracionalidade, que encontra as suas lógicas nos recantos mais estranhos.
Olhando para cima, e para trás, tudo me parece velho, com uma cor opaca, baça, mas distinta, chamando a atenção para os ramos que se estendem à nossa volta, cada um mais frágil que o outro, mas que nos aconchegam para a segurança, como se fossem os ‘teus’ braços, aqueles que imaginamos a trazerem-nos conforto quando mais precisamos.
Não é nos outros que nos encontramos, mas sim em nós, quando olhamos para dentro, para além das entranhas e dos órgãos que um dia iremos decidir se os doamos ou não. Mas ao mesmo tempo, é nos outros que nos revemos, não sempre, mas por vezes, e quando menos esperamos."
Nuno Almeida, Retratos Incomuns, 2008
Tem formação em multimédia, fotografia e jornalismo. Mas mais do que isso, tem mundos na cabeça e caleidoscópios de actividade criativa.
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