"Pára, escuta e olha… Que frase tão familiar.
Estamos sentados de frente um para o outro, após um encontro combinado em que nos revemos na ausência de tempo do nosso olhar. Aqui não há pressas.
Apesar de sermos “apenas” amigos, a cumplicidade que transborda e se sente eleva-nos para um outro tipo de patamares e delícias, consoante vamos desligando as luzes e acendendo umas pequenas velas de água, que realçam o brilho que sobressai dos nossos olhos e propiciam um ambiente que já de si era maravilhosamente intimista.
As oportunidades foram várias para irmos mais além, e à medida que vamos falando sobre as pessoas que temos actualmente e alguns dos dilemas do nosso dia-a-dia, aprendemos a aceitar a nossa decisão em não deixarmos a nossa libido e energia tomar conta de tudo. É mais um daqueles “ses” que por vezes pairam no ar e na nossa cabeça. Quem sabe um dia até mandemos tudo ao ar, mas por agora ficamo-nos por algo um pouco diferente e não necessariamente melhor ou pior, mas sim bonito.
Entre sorrisos e ambientes cúmplices vamos saboreando este vinho, fazendo brindes e conversando mais um pouco. A comida está óptima pensamos, e nós também, pelo menos neste momento.
Consoante a música que escolhemos para este serão progride, vamos voltando a conhecer-nos, revisitamos as mais diversas fases da nossa vida e partilhamos lembranças. Muito se passou realmente.
Após mais uns copos de vinho e uma taça de morangos com chantilly decidimos dançar um pouco, e sabe tão bem, estarmos assim novamente, nestes raros privilégios que a vida nos vai proporcionando. Lentamente, vamos movendo os nossos corpos, num arrasto lânguido que tem tanto de inocente como de uma sensualidade exacerbada. Aos poucos e poucos aproximamo-nos um do outro, até chegarmos ao abraço inevitável, deixando-nos ficar assim por vários minutos, sentindo o calor e honestidade do momento, e de nós.
Temos bastante a ver um com o outro, pensamos, sentindo-se uma certa melancolia no ar, uma tristeza que é forte e magoa, mas de uma maneira boa e bucólica até. É um tipo de sofrimento perfeito diríamos cá para nós, acentuando-se com o final desta música que nos tolda nesta altura, não faltando muito para mais uma daquelas despedidas tão nossas.
Quem sabe o medo de perdermos o que temos seja imenso, tal como o podermos ferir quem nos rodeia devido à explosão resultante do caos e intensidade da nossa energia. Quem sabe seja isso ou apenas não ter calhado, mas por agora só pensamos realmente em desfrutar o que temos.
Afastamo-nos um pouco, os braços descendo ao nível da nossa cintura, enquanto fixamos o olhar um no outro. Nada dizemos e ficamos apenas assim mais uns minutos, até que aproximamo-nos mais um pouco novamente. Beijamo-nos suavemente na face, sussurrando mutuamente ao ouvido que está na hora de ir e que, mais uma vez, hoje não é boa ideia eu ficar a dormir em tua casa.
Levas-me até à porta, de mãos dadas, naturalmente e com um sorriso resplandecente na cara. Ficamos parados a olhar mais um pouco um para o outro, para de seguida nos despedirmos com um beijo terno na boca. Para o caminho levo comigo as palavras que me proferiste ao ouvido antes de virar costas e fechares a porta: *nunca mudes*."
Nuno Almeida, Lugares Comuns, 2008
boomp3.com
Estamos sentados de frente um para o outro, após um encontro combinado em que nos revemos na ausência de tempo do nosso olhar. Aqui não há pressas.
Apesar de sermos “apenas” amigos, a cumplicidade que transborda e se sente eleva-nos para um outro tipo de patamares e delícias, consoante vamos desligando as luzes e acendendo umas pequenas velas de água, que realçam o brilho que sobressai dos nossos olhos e propiciam um ambiente que já de si era maravilhosamente intimista.
As oportunidades foram várias para irmos mais além, e à medida que vamos falando sobre as pessoas que temos actualmente e alguns dos dilemas do nosso dia-a-dia, aprendemos a aceitar a nossa decisão em não deixarmos a nossa libido e energia tomar conta de tudo. É mais um daqueles “ses” que por vezes pairam no ar e na nossa cabeça. Quem sabe um dia até mandemos tudo ao ar, mas por agora ficamo-nos por algo um pouco diferente e não necessariamente melhor ou pior, mas sim bonito.
Entre sorrisos e ambientes cúmplices vamos saboreando este vinho, fazendo brindes e conversando mais um pouco. A comida está óptima pensamos, e nós também, pelo menos neste momento.
Consoante a música que escolhemos para este serão progride, vamos voltando a conhecer-nos, revisitamos as mais diversas fases da nossa vida e partilhamos lembranças. Muito se passou realmente.
Após mais uns copos de vinho e uma taça de morangos com chantilly decidimos dançar um pouco, e sabe tão bem, estarmos assim novamente, nestes raros privilégios que a vida nos vai proporcionando. Lentamente, vamos movendo os nossos corpos, num arrasto lânguido que tem tanto de inocente como de uma sensualidade exacerbada. Aos poucos e poucos aproximamo-nos um do outro, até chegarmos ao abraço inevitável, deixando-nos ficar assim por vários minutos, sentindo o calor e honestidade do momento, e de nós.
Temos bastante a ver um com o outro, pensamos, sentindo-se uma certa melancolia no ar, uma tristeza que é forte e magoa, mas de uma maneira boa e bucólica até. É um tipo de sofrimento perfeito diríamos cá para nós, acentuando-se com o final desta música que nos tolda nesta altura, não faltando muito para mais uma daquelas despedidas tão nossas.
Quem sabe o medo de perdermos o que temos seja imenso, tal como o podermos ferir quem nos rodeia devido à explosão resultante do caos e intensidade da nossa energia. Quem sabe seja isso ou apenas não ter calhado, mas por agora só pensamos realmente em desfrutar o que temos.
Afastamo-nos um pouco, os braços descendo ao nível da nossa cintura, enquanto fixamos o olhar um no outro. Nada dizemos e ficamos apenas assim mais uns minutos, até que aproximamo-nos mais um pouco novamente. Beijamo-nos suavemente na face, sussurrando mutuamente ao ouvido que está na hora de ir e que, mais uma vez, hoje não é boa ideia eu ficar a dormir em tua casa.
Levas-me até à porta, de mãos dadas, naturalmente e com um sorriso resplandecente na cara. Ficamos parados a olhar mais um pouco um para o outro, para de seguida nos despedirmos com um beijo terno na boca. Para o caminho levo comigo as palavras que me proferiste ao ouvido antes de virar costas e fechares a porta: *nunca mudes*."
Nuno Almeida, Lugares Comuns, 2008
boomp3.com
5 comentar
Click here for comentarEstá tão bonito Nuno.. li duas vezes.
ReplyGostei mesmo muito. Lindo.
**
Obrigada. :)
ReplyEsta música é divinal, faz-me viajar cá de uma maneira... Não sei se este texto lhe faz justiça ou não, mas... gostei do que saiu neste momento, e sempre que a ouço dá-me mesmo para entrar numa mood meio estranha e para escrever ou ficar simplesmente parado a pensar nas mais diversas coisas.
Quem sabe escreva mais uns textos com ela, já que desde ontem que não páro de a ouvir. +_+
Alô,
ReplyEncontro muito interesante...
Respira-se um certo masoquismo em tanta contenção/repressão. Não se sente paz por aqui hoje.
Muito bem escrito e descrito, com um som perfeito a acompanhar :)
§
Thx. :)
ReplyHmm, bem, eles poderão não estar em paz realmente, mas ao mesmo tempo...quem sabe. :p
Há coisas que nunca mudam, apenas levam o seu tempo.
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