Independente

"Já pensaste bem no nível de controlo que tenho sobre ti ao sorver-te assim, sem pudor? Não? É uma pena, porque devias, há um respeito que se impõe a quem te pode arrancar o membro com um golpe de rins mais forte, quando o entusiasmo pode ir longe demais.

Horas antes, dizias-me ao ouvido as tuas fantasias, ao mesmo tempo, o paradoxo de sempre, que as gajas dispostas a isso não servem para casar, só para foder mesmo, de preferência, nas posições que a tua mulher não aceita, ou nas que tens vergonha de lhe pedir. Se calhar devia conhece-la, tenho um pressentimento que nos íamos encaixar da melhor maneira e tu irias gostar de o ver, sei, mas aí ela já não poderia ser tua mulher, certo? Porque as esposas querem-se mansas e virgens no rabo, ao contrário de mim, a quem pedes para levantar as pernas daquela maneira, no ridículo de não o conseguires manter de pé depois. Dizes que ficas nervoso, que eu te intimido, que sou apertada, patético, assim como continuas com essa história que gajas assim, não servem para casar, no entanto, aqui estás, à mercê das vicissitudes da língua.

Se há algo que aprendi nesta vida, é que quem nos faz tremer como ninguém é pessoa a manter, como se pudéssemos guardar todos os dias um orgasmo especial dentro de um armário, entre as roupas de uma gaveta castanha que retiras no momento certo, essas são as melhores, eu sou a melhor, nas artimanhas de oferendas de inquietude. É só chegar ali e zás, objectivo alcançado.

É a nós, gajas malucas de uma noite como tanto gostas de dizer, que deviam oferecer anéis, é a mim que me deviam apertar o dedo, evitava-se os queixumes e os dramas, evitava-se ter de te ouvir a ti e aos outros estúpidos todos, a lamentarem-se da vida que têm em casa por receio de ficarem sozinhos, porque viram os amigos todos a casarem com o tempo, porque são uma merda no fundo. E quando chegar a hora de pintar a garganta contigo, quando me apetecer, fica ciente que continuarei anónima, porque sei que isso irá deixar-te a dar voltas na cama, quando chegares a casa e olhares para a camisa de dormir da mulher ao teu lado, como se quer, como eu quero, independente."

Nuno Almeida, Ecos de Gravidade, 2010

4 comentar

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(H)Olga
admin
07 julho, 2010 22:20 ×

Explica-me como é que um dos melhores textos, que tenho lido por aqui, não tem um único comentário :/

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07 julho, 2010 22:37 ×

É uma questão pertinente e obrigado no que me toca. :)

Por medo?
Por poder causar silêncios incomodativos?

É uma resposta que também não sei, a mim próprio perturba-me quando saio deste estado e olho para estas coisas depois.

Pessoalmente, gosto muito dele também, por muito que isso possa soar suspeito. Lembra-me alguns outros que escrevi na pele de certas personagens, deste eus. Ler isto, faz-me tremer.

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07 julho, 2010 23:13 ×

È isso, um pouco forte e muito mais...poderoso!

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