Dos novelos


O ruído, crescente, constante, tolda-nos os dias. Um oceano de vazio. Entre a luta contra o afogamento no excesso de informação supérflua e os múltiplos trabalhos pendentes, realizados, em curso ou perspectivados para o futuro, acabei por me afastar daqui. A surpresa não será muita, ou nenhuma mesmo, nem me parece que existiriam grandes reacções se tal ausência fosse permanente. É uma das sensações normais neste mundo apressado que não espera por ninguém.


Embrenhado continuamente na contenda utópica de tentar oferecer algo, de criação constante, questiono-me regularmente se o meu tempo já passou, ou se há algo mais que possa dar. E sinto que não estou só nestes novelos. Atento, sei perfeitamente o que se passa, as notícias do dia, o que é um drama verdadeiro, ou o que é uma futilidade, apenas escolhi seguir há muito outras estradas de partilha, seja aqui como noutras paragens por onde ando, porque não encontro sentido na repetição ou na ilusão muito actual de que as pessoas querem saber das nossas opiniões pessoais sobre os assuntos que se acham prementes e obrigatórios discutir diariamente como se, de repente, tivesse nascido em nós um especialista de tudo e de nada. E porque acredito, como já referi aqui inúmeras vezes, em mudanças e revoluções que podem ser construídas e alcançadas de outra forma.


Uma das minhas companhias regulares nestes dias, tem sido o player que podem encontrar no lado direito com vários podcasts. Tenho como rotina clicar num dos nomes e deixá-los a tocar de seguida. A mente fica longe e dou-me conta da quantidade de informação e de material que existe neste blogue. Demasiada. Num desses momentos, uma certa música dos Nosound, que podem escutar mais abaixo, fez-me ficar ainda mais pensativo do que o normal. Sorri com a informação de um novo livro que vem a caminho após profunda investigação, tratei mais fotografias do projecto infindável relacionado com a Hungria, dialoguei com bandas, editei vídeos, elaborei cartazes, escrevi para mim, continuei a trabalhar noutras demandas. O acaso brinca com o conhecimento, arte nasce do caos das possibilidades, um método solidifica-se e revolta-se contra o entorpecimento do linear. As pausas poderão ser maiores ou menores, algumas actividades tenderão a adormecer, ser postas de lado e relegadas para quando voltarem a fazer sentido, outras tomam-lhes o lugar. Mas estou vivo. E é só.

8 comentar

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Guillaume Franco
admin
03 julho, 2015 22:56 ×

My magician, you are...

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Sofia Nobre
admin
03 julho, 2015 23:00 ×

É bom saber-te vivo :)

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03 julho, 2015 23:13 ×

Obrigado Sofia. :) Podia continuar a relegar-me ao silêncio, mas optei por não o fazer e dar uma pequena explicação com mais algumas imagens e vídeos para tentar dar cor aos dias. :) Também gostei da novidade do Mestrado que vi entretanto no facebook. ;)

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03 julho, 2015 23:13 ×

Oh muito obrigado Guillaume. :) Por isso sinto que não estou só nestes novelos. :)

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Guillaume Franco
admin
04 julho, 2015 01:04 ×

Nâo,nâo estás, cuida-te, we need you :´)

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09 julho, 2015 01:47 ×

O sucesso é ir de fracasso em fracasso sem perder entusiasmo.... de Winston Churchill.

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13 julho, 2015 12:05 ×

Apesar de perceber o que ele queria dizer, não concordo particularmente com essa afirmação, especialmente se não existir um equilíbrio. Se não existir uma luz, um balanço que motive as pessoas a continuar, elas simplesmente acabam por desistir e perder o entusiasmo devido à frustração derivada de fracassos contínuos. Também por isso grande parte desiste dos seus sonhos/objectivos e entram no que se decidiu chamar de realidade e de "é assim que o mundo funciona", tornando-se meros números e bases estatísticas, até serem engolidas pelo mundo e desaparecerem sem deixar algum rasto.

Quem sabe por isso uma das utopias que me move seja a de tentar dar algo a elas por saber como o dia-a-dia pode ser frustrante quando baseado apenas numa lógica de sobrevivência e de sermos máquinas numa engrenagem que tritura as pessoas sem algum pingo de humanidade.

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