David Lupton: O fascínio do grotesco


Oacaso é responsável, inúmeras vezes, por algum do conteúdo que aparece neste blogue. Apesar da linha condutora específica, cada vez mais, é nesse instante de descoberta que acontecem milagres que nos assolam os sentidos.


A arte de David Lupton chegou até mim através do disco The Very Last of the Saints dos ingleses Ghosting Season. A figura feminina, entre o esquelético e o vagamente humano, os traços, as cores, amor à primeira vista. Foi isso que me levou a escutar o álbum respectivo, mas acima de tudo impulsionou-me a descobrir um pouco mais sobre este artista.


David Lupton nasceu em 1974, no Reino Unido, e é um ilustrador cujos trabalhos podem ser vistos em colaborações com as mais diversas bandas de música, editoras e publicações. The Guardian, New Scientist, The Times, Sony Music Entertainment, Time Out, Warner Records, Financial Times, The Folio Society e NBC Universal, são alguns dos clientes com quem já trabalhou.

Existe sempre algo de fantástico no trabalho de David Lupton, um elemento que nos incomoda e que nos atrai ao mesmo tempo, uma ligação a personagens proscritas de cinema e literatura, a quem vive à margem.
Desenhos a preto e branco, ilustrações a cores, os resultados são dramáticos e emocionais, os pormenores muitos, um fascínio pelo grotesco, pelo delicado minucioso e caótico das texturas que se pode observar em muitas das suas obras desenhadas à mão. É um estilo que partiu das influências de Egon Schiele, Maurice Sendak, Kathe Kollwitz, James Ensor, Paula Rego, Otto Dix, Francis Bacon, Dave Mckean ou Edward Gorey, para um caminho próprio que nos toca no íntimo.


Uma das suas colaborações mais curiosas são os livros animados editados pela Madefire. A premissa é a de uma banda-desenhada interactiva em que os textos e imagens surgem consoante folheamos os livros, complementados com uma banda sonora a condizer. Dois desses livros são adaptações de personagens conhecidas como Drácula e Sherlock Holmes e podem aceder a estes trabalhos através de uma aplicação para o sistema iOS da Apple, ou visualizá-los online nas páginas respectivas no site Deviant Art. Deixo aqui as ligações directas para quatro desses livros: Dracula's Guest, Sherlock Holmes & the Musgrave Ritual, Death & the Myrmidon, Metawhal Alpha.


De muitos dos seus trabalhos que saem da norma, há que referir também as ilustrações para o livro infantil Goodbye Brecken. Estas produzem em nós um tipo de encanto diferente e oferecem uma outra visão da sua capacidade como artista. A melancolia que se sente em outras das suas obras continua presente, tal como o seu registo e cunho pessoal, mas uma certa escuridão e fascínio pelo macabro desaparecem para dar lugar a outro tipo de ambiente.


Existe sempre algo de fantástico no trabalho de David Lupton, um elemento que nos incomoda e que nos atrai ao mesmo tempo, uma ligação a personagens proscritas de cinema e literatura, a quem vive à margem. As narrativas do género terror também parecem exercer uma influência directa atendendo aos resultados finais de muitas das suas colaborações e obras.


A intensidade que sentimos parece proporcional aos traços e pinceladas, à fragilidade que transparece nas figuras, no desolador de algumas das paisagens e espaços em que se movimentam. Tudo parece contar a sua própria história e, inadvertidamente, isso tem o dom de captar a atenção dos nossos olhos, de nos envolver num estranho feitiço.


Uma visita ao site oficial, ou ao blogue do artista, cujas ligações disponibilizo abaixo, é um convite que deixo a quem se quiser perder um pouco mais na magia dos universos criados por David Lupton.


Site oficial: http://www.david-lupton.com/
Blogue: http://davidlupton.blogspot.com/