The Borrower Arrietty: Uma aventura para toda a família

Filme (Anime)
2010

1h35m

Obras semelhantes, ou para os apreciadores de:
Kiki's Delivery Service, Whisper of the Heart, Princess Mononoke, My Neighbor Totoro, Fantastic Children, Miyori no Mori










Um universo onde residem seres humanos normais e seres humanos minúsculos que dão pelo nome de borrowers. O equilíbrio precário que reside nas partilhas de ambas as realidades e de como uma pode afectar a outra, é a premissa deste filme.


Os Estúdios Ghibli têm o condão de nos oferecerem histórias que tendem a ficar connosco. Os resultados são, por norma, um deleite para toda a família e conseguem englobar mensagens nas suas obras sem as forçarem no espectador. O respeito pelos animais e pelo próximo, a importância das crianças no seio familiar, é possível encontrar traços comuns em quase todos os trabalhos deste prestigiado estúdio.

No seguimento desse sentimento de continuidade, os traços de grande parte das personagens denotam semelhanças claras com obras anteriores, quase como uma característica cultural que nem sempre funciona da melhor maneira. A sensação que já vimos esta personagem ou aquela vai desde os arquétipos comportamentais, até ao grafismo de quase todas elas.


O início do filme revela uma aposta arriscada no uso de uma música adocicada para ilustrar a introdução. O incómodo persiste durante alguns minutos, ultrapassado gradualmente pela beleza da animação e detalhes visuais. A dicotomia entre o que os seres humanos e os borrowers percepcionam reside precisamente em muitos desses detalhes, na dimensão dos objectos, das pessoas, de como será o mundo através dos olhos de cada personagem.

A vertente sonora é também onde podemos observar muita dessa atenção ao detalhe. Quando a acção passa para os borrowers os sons exteriores surgem exponenciados pela pequena escala daqueles seres. O bater de asas de um insecto, as gotas da chuva a escorrer das folhas de uma planta, o barulho sincronizado dos ponteiros de um relógio.


O nome borrowers vem do verbo emprestar em inglês (borrow), apoiado no filme pela ideia que os pequenos seres humanos sobrevivem entre os seus congéneres através de artigos que levam emprestados das casas onde se instalam. Torrões de açúcar, guardanapos, pequenas coisas que não façam falta e que consigam passar despercebidas.
É a partir desse momento que começamos a entrar num ambiente repleto de magia e cor, como no drama existencial despoletado pelo choque entre as realidades das duas personagens.
O filme é baseado numa história para crianças da autoria de Mary Norton, transportada aqui para o Japão actual ao contrário da Inglaterra dos anos 50 da obra original. O nome vem da personagem principal, Arriety, uma rapariga borrower de 14 anos de idade. Sonhadora, com uma vontade enorme e inocente em descobrir o mundo que a rodeia, acaba por despoletar toda a trama ao encontrar um rapaz humano de 12 anos de idade nas suas aventuras fora da casa. É a partir desse momento que começamos a entrar num ambiente repleto de magia e cor, como no drama existencial despoletado pelo choque entre as realidades das duas personagens.


O ser humano tem uma tendência para asfixiar ou destruir os habitats de espécies que o rodeiam. Por vezes isso acontece de maneira inconsciente, até com boas intenções, noutras alturas isso acontece de maneira deliberada, proveniente da própria índole das pessoas. É um aspecto central neste filme. Nunca chegamos ao extremo da mensagem existente em Princesa Mononoke, obra incontornável dos Estúdios Ghibli, mas ela está lá, contada aqui de forma menos pesada e mais acessível.


The Borrower Arriety é um filme propício para graúdos e miúdos. Animação excelente, história bonita, personagens carismáticas, componente sonora cuidada, tudo isto ajuda a prender o espectador emocionalmente. É provável que não deixe uma impressão tão duradoura como outras obras mais marcantes do estúdio, mas é uma aventura repleta de qualidade.