«O barulho, o sonho, é sempre o mesmo, uma porta a fechar-se quando estamos a meio do corredor de uma casa. Tapetes enrodilhados, o pó na ponta dos dedos, na pele, nos móveis que tornámos nossos, tivemos em nós que este mundo em que vivíamos era-nos estranho, criámos outro, duas crianças a brincar na sala, dois gatos, rufias, a correrem pelas divisões, canetas atiradas para o chão, sorrisos, beijos, carinhos, não somos de derrotismos fáceis, primamos pela alternativa.
Brincas com o cigarro, a parte inferior de uma pequena garrafa transformada em cinzeiro, a idade, escondida em felicidade, é uma das nossas conquistas. A câmara, ligada em segredo, capta momentos em surpresa, no entendimento de sermos nós, ali, debaixo da mesa da cozinha, de pernas cruzadas, a jogar às escondidas, guardanapos em cima da cabeça, brincadeiras idiotas, fazemos de conta que percebemos o que estamos a fazer, não interessa.
Estou novamente no parapeito da janela, olhar no vazio, sorriso característico, a precariedade do sustento abençoado pelas nuvens, sinto-te nas minhas costas e encostamos as faces, os risos traquinas, atrás de nós, as marradinhas nas nossas pernas, somos interrompidos pela vida, os braços ocupados com alegria, é mais que certo que o mal está em nós.»
Nuno Almeida
Histórias de raparigas com casacos de cabedal e braços cobertos com pulseiras
2011
Brincas com o cigarro, a parte inferior de uma pequena garrafa transformada em cinzeiro, a idade, escondida em felicidade, é uma das nossas conquistas. A câmara, ligada em segredo, capta momentos em surpresa, no entendimento de sermos nós, ali, debaixo da mesa da cozinha, de pernas cruzadas, a jogar às escondidas, guardanapos em cima da cabeça, brincadeiras idiotas, fazemos de conta que percebemos o que estamos a fazer, não interessa.
Estou novamente no parapeito da janela, olhar no vazio, sorriso característico, a precariedade do sustento abençoado pelas nuvens, sinto-te nas minhas costas e encostamos as faces, os risos traquinas, atrás de nós, as marradinhas nas nossas pernas, somos interrompidos pela vida, os braços ocupados com alegria, é mais que certo que o mal está em nós.»
Nuno Almeida
Histórias de raparigas com casacos de cabedal e braços cobertos com pulseiras
2011
magic's overrated
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Tem formação em multimédia, fotografia e jornalismo. Mas mais do que isso, tem mundos na cabeça e caleidoscópios de actividade criativa.
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