A Magia e a Decadência: Noites de Lisboa

De mãos dadas, as nossas duas amigas ali em cima, descrevem parte de uma noite que decidi relatar por ir de encontro a algumas coisas que normalmente fazem parte dos meus pensamentos em relação à música.

O serão começou com uma excelente carbonada servida pelo nosso mestre Silva, acompanhada por umas cervejas e, posteriormente, por uns belos copos de vinho do porto. Entre o torpor do álcool e os espasmos provocados por elevadores mais apertados do que deveriam, estávamos quase prontos para deambularmos pela cidade.

Existem algumas razões porque o LEFT tem sido um dos nossos poisos e locais de eleição. Por um lado a simpatia e ultra boa disposição dos donos, por outro o ambiente e a total surpresa no que toca à música, em que nunca sabemos o que esperar dali. Como bons groupies que somos, numa dessas noites ficamos fãs de uma das pessoas que lá estava a tocar, o que nos levou a ir vê-la ontem noutro espaço. Sim, isto é familiar.

Entre o Felix the Housecat, a Siouxsie e uma faixa de Lali Puna que é um dos meus fetiches, saídas assim do nada de surpresa, a nossa decisão de nos tornarmos groupies consolidou-se ainda mais como acertada. Até aqui, tudo muito normal, ou pelo menos, no que para nós é normal num andamento que pode ter muito de esquizo e é impossível de descrever sem existirem essas energias em nós.

Como ainda era relativamente cedo, fomos depois espreitar um dos novos clubes abertos recentemente, cujo nome para agora não interessa, mas que deu o seu contributo de surreal à noite, como de desalento e doses de ironia tremendas. Entre a música e ambiente, a dada altura parecia que estávamos num daqueles bailes da terrinha, o que tem a sua piada inicialmente, mas quando isso se estica durante várias horas, tudo muda e não para o positivo. Por esta altura aquelas conversas de algumas pessoas não perceberem o porquê de eu fazer casamentos algumas vezes ainda se tornava mais irónica. Mesmo assim, lá continuamos e num espírito muito pacífico, apesar de estar ali concentrado muito do que não desejo fazer numa noite, posturas portanto.

O final na noite traria consigo a ironia última, quando um de nós, já com o estabelecimento encerrado e sem nunca os termos incomodado durante a noite, perguntou muito na boa a um dos djs o porquê de ele ter passado certa faixa de uma banda e não outra qualquer, se era a preferida dele ou isso. As respostas, em tom altamente arrogante, passaram por coisas como a vontade que prevalece é a de quem está deste lado e isto não é o telefone toca. Ora bem, possíveis teorias aparte de que podia ter sido um momento de stress devido a outras pessoas ou não, certo é que quando ouvi aquilo e naquele tom, mesmo não sendo comigo, achei de uma antipatia enorme, assim como de uma ironia excelente, já que toda a noite, seja qual o género que fosse e salvo raras excepções, o que passou foi exactamente todos os clichés possíveis e mais alguns, que se ouvem em n espaços, um quando o telefone toca portanto, ou a espécie de playlist que parece rodar por várias mãos e que me lembra a praga que aflige as rádios também por exemplo. E isto a uma 3ª Feira, num espaço novo e com um tipo de público que dançaria o que fosse, como deu para perceber muito rapidamente pelo estado geral. Giro, ou não.

As faltas de alternativas aparentes continuam portanto, a não ser que nós, como público, sejamos mais exigentes e tenhamos um nível de critérios diferentes, razão porque sou esquisito com espaços por exemplo, porque gosto de algumas pessoas e djs em particular, porque quando vou sair gosto de estar onde eles estão e não num outro sítio só porque sim. Não, não acho que eu, ou nós ou isso, sejamos a solução para o que seja, mas enquanto prevalecer (ah adoro!) a vontade de querer algo mais e o poder de escolha, dispenso bem certos tipos de noites de música.

2 comentar

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19 agosto, 2010 00:19 ×

Mestre Silva aprova :)

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19 agosto, 2010 00:23 ×

:D

Olha, acho que ainda estou cheio da carbonada, o que é bom sinal. ;)

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