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"Preenchimentos de vazio, conforto, rituais, nesses momentos, tudo nos parece mais do que é, mais profundo, mais bonito, o escape perfeito ao que queremos fugir. Chaves na porta, olho posteriormente para a caixa do correio e sinto uma saturação ignóbil por aqueles logótipos que se entranharam no meu subconsciente sem pedir licença. Mais contas para pagar penso, remetendo as cartas por abrir para um lado qualquer até passarem pelo menos três dias, altura em que as levo comigo para a casa-de-banho e tento perceber se a minha intuição estava correcta ou não.

Facturas, promoções, publicidades bancárias, todos querem ser meus amigos nos papéis timbrados.

Não sei o que faz aqui este espelho, nem para que servem metade dos objectos desta divisão da casa, nem porque me está a custar tanto a fazer o que vim aqui fazer, conclusão lógica quando desvio por minutos a atenção. Que raio, a cidade nunca me pareceu tão enfadonha como agora. Quase aposto que conheço todos os carros que observo na minha janela às mesmas horas. São os meus vizinhos escondidos, tesouros de esforço.

Vácuo, queria tanto, agora."

Nuno Almeida, Ecos de Gravidade, 2010

2 comentar

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elsafer
admin
08 abril, 2010 19:18 ×

como , por vezes, passamos a ver a rotina da vida ! para alguns sempre , para outros nunca ...

prefiro ser dos que ás vezes vêm , mas procuram olhar através do espelho e pintar-lhes uma cor bem colorida.

é o que fazemos quando percorremos estas páginas, deste teu caderno de apontamentos.

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08 abril, 2010 19:24 ×

Por muito que goste do cinzento, também gosto de colorir a vida com outras cores. ;)

Mas algo me diz que poderá vir aí nova fase de inspiração e conjunto de textos com algum foco em certo conteúdo. Não sei, algo que se sente.

Até ponderei se isto não estaria relacionado com os 'Lugares Comuns', mas decidi que esse conjunto está mesmo encerrado, como tal, nova fase, sempre em frente, percurso de continuação :)

Thx pelas palavras e comentário mais uma vez. :)

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